Privado: A nova moral do funk
por Marcia Tiburi
A afirmação adorniana de que após Auschwitz toda cultura é lixo não perde sua atualidade. Se, de um lado, a frase implica que a cultura não vale mais nada, de outro quer dizer que “lixo” é a melhor categoria explicativa da cultura como “aquilo que se rejeita”.
Mas vem significar também que cultura é a experiência do que sobra para os indivíduos levando em conta as condições socioeconômicas e políticas marcadas pela divisão de classes, de trabalho, de sexos, da própria educação dirigida de maneira diferente a pobres e ricos.
A partir da elevação do lixo à categoria de análise, podemos com tranquilidade ecológica (aquela que faz a separação dos descartáveis por categorias) partir para uma brevíssima investigação daquilo que se há de nomear como “moralina funk”, a performance corporal-sonora que se apresenta como o ópio do povo de nosso tempo.
Muito já se escreveu sobre o fenômeno que merece atenção filosófica urgente desde que se tornou a “cultura” que resta para uma grande camada da população de classes menos favorecidas econômica e politicamente.
Muitos afirmam que “o funk carioca também é cultura”, mas pouco comentam sobre seu sentido como capital cultural justamente porque seu único capital implica uma contradição: pobreza material e espiritual. Ou seja, capital nenhum.
Na ausência desse capital sobressai o que resta aos marginalizados. Eles descobriram o valor daquilo mesmo que lhes resta. Eis o capital sexual.
A performance da moralina funk depende desse capital sexual. Explorado, ele é a única mercadoria da consciência e do corpo coisificado. Seu paradoxo é parecer libertário quando, na verdade, é a nova moral.
Pornografia moralizante
Produto dos mais interessantes da sempre moralizante indústria cultural da pornografia, a esperteza do funk carioca é transformar em regra aquilo que foi, de modo irretocável, chamado por seus adeptos pela categoria do “proibidão”. A versão da coisa que não é para todo mundo.
A fórmula do funk é tão imbatível quanto a lei do estupro das histórias do Marquês de Sade. É o barulho como poder, ou melhor, violência. Nenhum ouvido escapa da moralina funk na forma de disfarçadas ladainhas em que as mesmas velhas “verdades” sexistas se expõem, como não poderia deixar de ser, pornograficamente.
A economia do proibidão
Mandamento sagrado da performance é que ninguém ouse imputar marasmo ao tão cultuado quanto profanado Deus Sexo.
Não existe uso da pornografia autorizado, pois a regra de sua moral é a clandestinidade. Daí a função do proibidão na economia política do funk. A história da pornografia oscila entre ser o outro lado da lei e ser apenas outra lei.
Foi isso que fez seu sucesso político em sociedades autoritárias contra o princípio publicitário que lhe deu origem. É o que está dado em sua letra: porno (prostituta) e grafia (escrita) definem, na origem, a mulher que pode ser vendida. E que, para ser vendida, precisa ser exposta.
A pornografia é, assim, uma espécie de exposição gráfica da mercadoria humana. Não é errado dizer que a lógica que transforma tudo em mercadoria tem seu cerne na “prostitutabilidade” de todas as coisas. Nada mais simples de entender em um mundo de pessoas confundidas com coisas.
Que a pornografia esteja ao alcance dos olhos, dos ouvidos, de todos os sentidos, exposta em todos os lugares, significa apenas que a regra do ocultamento foi transgredida. Mas implica também sua efetivação como publicidade universal. Isso explica por que ela não choca mais.
Na performance do funk carioca ela é altamente aceita em escala social. Seja pela pulsão, seja pela acomodação, se o imoral torna-se suportável é porque ele tomou o lugar da moral. É a nova moral.
A pornografia de nossos dias é tão bárbara quanto a romana pornocracia, com a diferença de que não temos mais nada que se possa chamar de política em um mundo comandado por regras meramente econômicas.
Daí que todo funkeiro ou seu empresário saibam que seu negócio é bom pra todo mundo.
(86) Comentários
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O “funk” como expressão musical “afro-americana” é algo totalmente diverso do funk carioca. De todo modo o funk é um beco sem saída, como pode percebert Miles Davis, nos anos 80. E nem mais se restringe às classes “d”, “e” e “f”, visto que rapazes moças bem nascidos encontraram no funk sua forma de fantasiar sua “liberdade”, com o pancadão dos centros urbanos onde reina a “gente de bem”. Do ponto de vista da cultura vivemos a “alta Idade Média” da sociedade pós-industrial. É isso
O ponto que o texto levanta sobre a comercialização da sexualidade é bom. É um mercado promissor no capitalismo, mais uma maneira de reificar os corpos. Porém, lendo esse artigo, temos a impressão de que o Funk Carioca começou com o proibidão. Faltou pesquisa, acredito.
Assim como os funkeiros, acadêmicos também gostam de ganhar dinheiro com suas apresentações. Nisso, acabamos vendo palestras quase que pasteurizadas, beirando a autoajuda por causa de uma pressào do dinheiro/mercado. Com o funk não é diferente, mas ao invés de autoajuda o público busca pornografia. Mas, assim como não podemos dizer que todo o público de uma palestra de filosofia busca autoajuda, não podemos dizer que todo o público do funk busca pornografia. Nem todo filósofo pende para a autoajuda assim como nem todo funkeiro pende para a pornografia.
É preciso lembrar que o Funk Carioca que nos anos 80 dava seus primeiros passos não era composto de pornografias. Existia sim, assim como existe no samba, axé, mas em minoria.
Nessa época o Funk Carioca foi proibido de ser tocado nos bailes do asfalto. Policiais invadiam os bailes e atiravam nas caixas de som para inutilizar o equipamento. O Funk Carioca encontrou tranquilidade junto aos marginalizados do morro, onde a polícia não tinha “moral”de estragar a festa.
Trata-se de um movimento cultural que depois de abafado pela repressão ganhou o mundo. O Funk Carioca merece mais respeito e estudo. Embora sofra uma pressão forte do mercado, o Funk Carioca não pode ser resumido a pornografia simplista, ainda mais se utilizando de Adorno para atacá-lo. Adorno se referia aos ouvintes de Wagner, não de músicas do gueto, como é o caso do Blues, do Jazz e do Funk Carioca.
Onde está a pornografia nos versos: “É som de preto / de favelado / mas quando toca / ninguém fica parado”? Onde está a pornografia nas músicas do Claudinho e Buchecha, e naquela gravada por Adriana Calcanhoto? Pra quem não sabe, Claudinho e Buchecha foi revelado pelo Furacão 2000 e não pela Globo. Dizer que o Funk Carioca começou no proibidão é o mesmo que dizer que a MPB começou com Jorge Vercilo.
Para a princesa falar sobre o povo, é preciso primeiro sair do castelo.
Tiburi, se liga:
Como diz o Chico César: “mais forte que o açoite dos feitores/ São os tambores/ os tambores
Seu toque é o toque de espinos e flores
São tambores os tambores”-
Fica a dica, Tiburi.Se liga, fia.
Solta o batidãooooOO!!
KAAAARAAAAKAAAAA !!! Primeiro de tudo,funk carioca nao tem NADA a ver com funk americano.Qualquer musico em inicio de carreira sabe muito bem disso.Usam esse nome nem sei porque.Falar de Miles Davis ( comentario) numa materia sobre funk carioca é puro desconhecimento do que é uma coisa é do que é outra.Agora com todo respeito Marcia. Creio que vc precise sair pra se divertir um pouco.Sair da cabeça. Have fun babe !!!
Pelas barbas do profeta… onde é que eu vim parar?
fica claro no seu texto que você desconhece o que é o funk carioca, suas vertentes e sua cultura (que a despeito da sua ignorância, existe). devia pesquisar melhor, pra escrever coisas sobre as quais você não tem propriedade nenhuma. seu artigo soa preconceituoso, atrasado e limitado… e a pobreza está nisso.
lamentável.
Na segunda linha do antepenúltimo parágrafo “porque” é separado.
Porque junto é conjunção causal ou explicativa e significa
“pois”,“uma vez que”, “para que”.
Por que separado deve ser usado quando for a junção da preposição por + pronome interrogativo ou indefinido,que possuirá o significado de “por qual razão” ou “por qual motivo”
É um assunto um tanto quanto polêmico… pois criticar é facil dificil é fazer algo para que se mude. O funk é mesmo pornográfico? E as musicas de forró com duplo sentido? Aí se torna engraçado né! O ritimo quente da lambada, onde mulheres de saias curtissimas e calcinhas enterradas se esfragavam de frente e de costas em seus parceiros? O que dizer das raves… encontros de mais de 12 horas sob o comando de musicas eletronicas, DJ’s famosos e internacinais onde drogas e sexo rolam solto… o axé com vestimenteas insinuantes e musicas sexuais, onde uma garrafa se torna parte integrante de uma coreografia… será que o problema está apenas no funk carioca? Ninguem é obrigado a nada… mais cristicar é fácil…
Infelismente nem todos, gostam deste tipo de pornografia, e quem não aprecia, se torna escravos de pessoas sem escrupulos, colocando o som no último volume, sem se importar se está atrapalhando ou não. Cadê a educação, o respeito pelos outros e principalmente pelas mulheres, que são agredidas moralmente pelas letras do que chamam de ¨musica¨.
Até quando teremos que suportar tanta baixaria.
Muito bom Luis Henrique … conteúdo de um comentário como este se transforma parte da reportagem …
e fica a dica para a jornalista …
O mais deprimente de tudo isso é que ainda tem gente que chama de cultura só a alta cultura (leia-se ‘alta cultura europeia’).
Na boa pessoal, o que o lixo, quero dizer o tal do funqui dos cariocas agrega de valores para o povo. Um povo que para esquecer os problemas e a falta de uma vida satisfatória como a de um trabalhador normal que acorda cedo e procurar através de seu suor levar o pouco mas o abençoado por DEUS para dentro de sua casa prefere cair no trabalho escravo das bocas do RIO e assim aumentam o comércio clandestino, roubos e furtos. Me informem o que esse funqui traz de bom para a cultura do brasileiro.
Agora a seguinte frase é um desrespeito ao povo que acorda cedo, trabalha e estuda :
“Trata-se de um movimento cultural que depois de abafado pela repressão ganhou o mundo. O Funk Carioca merece mais respeito e estudo. Embora sofra uma pressão forte do mercado, o Funk Carioca não pode ser resumido a pornografia simplista, ainda mais se utilizando de Adorno para atacá-lo. Adorno se referia aos ouvintes de Wagner, não de músicas do gueto, como é o caso do Blues, do Jazz e do Funk Carioca.”
Rebato com respeito e veemência o comentário do Leitor Luiz Henrique. O rótulo que o texto emprega para o funk carioca não deve ser empregado aos artistas citados, como Claudinho & Buchecha, que pela própria postura, estão distantes do que é chamado “funk proibidão”. A questão é que Claudinho & Buchecha saiu de cena, caiu em desuso, ao passo que o proibidão se afirma como espelho legítimo dos nossos tempos, se perprtuará pelo futuro próximo, e talvez distante.
Não personificado por um ou dois artistas, até porque os integrantes deste movimento ficam restritos ao próprio gueto, sob a custódia da perseguição política, da censura ou da moral. Quando não é isso, sabemos.
Já ouvi uma história parecida antes… lembrei! Tinha a ver com “aquele tal de Roquenrou”…
“Proibidão” se refere ao funk que versa sobre as gangues dos morros do Rio de Janeiro. Chama-se assim porque é proibido, por lei, no Brasil, a apologia ao crime. Nada a ver com pornografia.
Mas, ok.
“Seu paradoxo é parecer libertário quando, na verdade, é a nova moral.” e “ladainhas em que as mesmas velhas “verdades” sexistas se expoem”
Lembremos dos versos de Deize Tigrona: “Eu dou pra quem eu quiser/ a porra da buceta é minha” ou qualquer uma da Gaiola das Popozudas.
Estão longe de serem a mesma ladainha sexista (machista) de sempre.
“Gênero modificou a natureza clandestina da pornografia”
A internet (xvideos e congêneres) fez isso em um nível muitas ordens de magnitude superior.
E eu nem sei se eu entendi o que ela quis dizer com pornografia… é sexo explícito, é isso? Falar, insinuar, exibir? Sinônimo de “baixaria” (seja lá o que isso signifique também)? Qual é o problema se os envolvidos forem adultos e houver consentimento? Mas que diabos… e, pelo mesmo argumento, qual é o problema com a prostituição?
O mundo (o Rio, a vida de quem escuta, dos atuais fãs) era melhor antes do funk que fala de sexo com todas as palavras? Acho que não.
O funk é uma música suja. Em sua maioria apreciada por pessoas sem cultura. Os que possuem cultura e mesmo assim aderem a este estilo de música sem letra alguma, são os rebeldes sem causa. Os pífios aborrecentes. Felizmente é uma modinha. Assim como Dominó, Menudos, Backstreet Boys ou até mesmo as musiquinhas da Xuxa. NAda de bom sai dessas orgias a céu aberto. e sim adolescentes grávidas e vidas destruídas. Não que eu seja um evangélico retrógrado para pensar desta forma, muito pelo contrário, sou Ateu. E pensando puramente na lógica, as razões e racionalidade presentes no Funk não traz benefício algum.
Seja como for, nascido assim ou assado, é lixo puro. Lixo de som, lixo de dança, lixo nas letras. Assim como sertanojo e pagode. Sons e fraseados rudes, primitivos, de baixa criatividade. Outro dia assisti uma reprise do programa Ensaio, na TV Cultura,onde o “favelado” Nelson Cavaquinho canta numa de suas mais belas músicas “… tire seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor”. Imagina se algum pagodeiro, funkeiro ou sertanojo detém essa capacidade poética? JAMAIS! Por isso, nem tudo pode ser considerado cultura. Cultura popular é isso, Nelson Cavaquinho, Cartola, etc. O que se toca e ouve nos morros cariocas hoje é simplesmente um NADA!
Marcia Tiburi, como no meu dia a dia, vou em casa de médicos, advogados em condominios fechados e em seguida vou em apto invadido cheirando a urina e cachorro molhado tenho que te dizer que o Luis Henrique esta com toda a razão do que escreveu, aliás, sua última frase vou passar pra frente.
E voce, sendo uma pessoa ‘culta’, ainda não percebeu que usamos o ‘manto da critica pra cobrir a inveja’ !?
Recomendo que voce leia menos e viva mais !
Usas meu nome para ganhar dinheiro, título e prestígio, assim como a pornografia é usada pelo funk. Peço, encarecidamente, apenas que desça até o chão tal qual o proibidão, coisa que, em vida, nunca fiz com meu amado Kracauer.
Att.
Luiz Henrique gostei muuito do seu comentário e , concordo plenamente com seus posicionamentos! A verdade é que é muito difícil se despir de certos preconceitos, principalmente de classes, e encarar e estudar com afinco os temas que se pretende discutir!!
Eu nem deveria comentar, visto que várias pessoas já demonstraram o quanto a sua ignorância quanto à cultura funk ultrapassa todos os limites. Mas preciso deixar aqui o registro: QUE ABSURDO DE TEXTO!
Leia, estude, frequente os bailes, conheça os artistas, bata um papo com Hermano Viana, Adriana Facina, MC Leonardo (presidente da Apafunk), antes que sua ignorância te domine!
Luiz Henrique disse: “Embora sofra uma pressão forte do mercado, o Funk Carioca não pode ser resumido a pornografia simplista, ainda mais se utilizando de Adorno para atacá-lo. Adorno se referia aos ouvintes de Wagner, não de músicas do gueto, como é o caso do Blues, do Jazz e do Funk Carioca.”
Como alguém pode ser tão ignorante? Nunca leu o “Philosophie de la nouvelle musique”? Adorno tinha um desprezo imenso pelo jazz, que ele considerava música da sociedade de consumo. Quanto a Wagner, nunca li uma palavra de Adorno contra a música de Wagner — só alguém de mau gosto poderia falar mal da música de Wagner!
O Funk carioca é lixo. Concordo que é um movimento passageiro que acabará rapidamente, como os tontinhos dos Menudos.
Marcia Tiburi explicou tudo.
Funk carioca é lixo podre, não serve nem para ser reciclado.
Aah, agora fez sentido.. há uns meses li um texto da Tiburi falando que a Lady Gaga é a nova revolução. Quando é uma gringa branquinha e magrela que usa o corpo é arte, mas quando são os pretos favelados é lixo.
São quase uns animais né, que não tem “capital nenhum” a não ser o sexo.
Essa coluna é um PÉSSIMA escolha da Cult.
Cidadão preocupado, quando ler ouvintes de Wagner, leia-se alemães nazistas. É uma metáfora que não diz respeito estritamente à música. Auschwitz era um campo de concentração nazista.
João Celso, gostei da reflexão. Moralizar a sexualidade não leva a nada.
Porque será que as pessoas se irritam quando “ouvem” as verdades?!?
Penso que a Marcia mostrou que as mulheres continuam marginalizadas mas de uma forma mascarada, em nome de uma falsa liberdade.
A coluna é a melhor escolha da Cult.Marcia Tiburi é a grande pensadora do Brasil.Não pode falar mal de funk, esse lixo?
Temos de combinar que algumas mulheres simplesmente adoram a idéia de serem “cachorras”, “vadias”,’putinha”. Para estas está tudo bem e não veem problema algum em serem expostas em açougues,aliás, no carnaval elas disputam para serem penduradas no abatedouro da Marquês de Sapucaí!
Não vejo nenhuma delas se queixando que são tapetes humanos para homens mais feios ainda!
Lado A
Tudo que um povo produz é cultura, ao menos foi isso que eu aprendi com Alfredo Bosi. E esta é uma visão nova a respeito do tema, pois o senso comum ainda chama de cultura aquilo que é feito por pessoas “inteligentes”, “sofisticadas” ou “geniais” – seja lá o que signifique isso. Se olharmos, então, pelo viés da moderna antropologia o funk carioca é cultura sim.
Começo pelo Adorno. Na verdade sei quase nada sobre suas teorias – tudo que sei foi por meio de citações ou referências, nunca li nada que ele tenha escrito, mas sei um pouco a respeito de sua crítica à cultura de massas. O funk entra nesta classificação, obviamente, mas é preciso admitir que nem tudo que a cultura de massa produz é lixo. Talvez o funk seja uma destas exceções. Talvez!
As letras são pobres, nem podem ser chamadas de música? Esta é uma questão interessante. Se partimos do pressuposto de que tudo no mundo é criação humana, então a cultura – e as noções de belo, de harmônico, de ético, de moral etc. – também é, ou seja, não existe “em essência” nada que seja bom ou ruim, belo ou feio, moral ou imoral, pois é tudo fruto da criação humana. Se dizemos que as letras do funk são ruins, estamos nos posicionando dentro de uma certa visão de mundo; mas se dizemos que elas são boas, ou refletem as pessoas das comunidades de onde vieram, então, estamos dizendo que toda cultura é válida – merece ser respeitada.
Ontem (07/11/2011), assisti a um documentário em que Michael Haneke, cineasta, dizia que a violência surge do medo do diferente. Por termos medo, queremos afastar algo, e por não sabermos como afastar de forma calma, partimos para a violência. Talvez seja este um dos problemas de nossa sociedade com relação ao funk, temos medo, pois não compreendemos o que é.
O sexo, ou o sexo “sem regras”, não pode ser usado como parâmetro para definir o que o funk é ruim, ou imoral, ou menso elevado que outros estilos de música. Como já disse Junior Flajota num comentário anterior, como ficam os outros estilos musicais? Vai dizer que não existe sexualidade explícita em letras de MPB? Ou será que é o vocabulário que incomoda?
(Parênteses: Pessoalmente, o vocabulário me incomoda por um motivo simples: tenho a impressão (eu disse impressão) de que essas músicas precisam ser tão agressivas (em alguns casos) para chocarem de frente com aqueles que não aceitam esta cultura, mas no meu entender, não é preciso ser agressivo para ser libertário, ou para chocar. O mundo já é libertário o bastante, o mundo já choca o bastante. Aprecio a ironia. Mas é apenas gosto pessoal (só pra frisar).)
Lado B
Entretanto, como disse Tom Zé, sou humano e não posso querer deixar de ser, de perder meus defeitos – ou algo assim. Sendo assim, minha opinião mais pessoal a respeito do funk é que trata-se de uma cultura que objetifica as mulheres, limitando-as à cultivação do corpo em detrimento da mente. Certamente há um discurso libertário nas músicas que merece algum respeito, mas não se pode ignorar outros preceitos transmitidos pelas músicas. Não se estimula o raciocínio ou a busca de uma transformação na vida.
Sei que estou me colocando como “colonizador branco europeu” ao dizer isso, mas mesmo assim digo: o discurso libertário (estou inquirindo, pois não tenho conhecimentos suficientes) busca fazer com que o resto da sociedade (ou os próprios membros da comunidade funkeira) reconheça o valor do funk e de sua cultura. É uma luta com méritos, mas não se pode ignorar, também, que (“colonizador branco europeu” discursando) estas pessoas não encontram as mesmas condições que a classe média, por exemplo, encontra para educar os filhos, conseguir emprego, etc.
Pode-se argumentar, também, que eu não tenho condições de julgar uma cultura da qual não faço parte, pois meus valores são outros. Quando se trata de uma tribo indígena, concordo totalmente, mas em relação à comunidade do funk, meu acordo é parcial, pois trata-se de algo recente e, pior, fruto da “necessidade”. Os morros, o gueto, as comunidades que apreciam o funk surgiram porque estão à margem da sociedade elitizada, já estabelecida há séculos. É louvável a luta pelo reconhecimento, mas isto só (“colonizador branco europeu” discursando novamente) não basta.
Espero que tenham entendido meu ponto de vista. Apesar de concordar com muito do que a Márcia disse, é óbvio que o ponto de vista dela foi muito limitado, como se tudo pudesse se resumir a uma simples equação. Tentei explorar um pouco mais o assunto, dentro daquilo que consegui refletir a partir do texto e de todos os comentários já publicados, mas sei que fui limitado também, pois vivo muito distante desta realidade. Mas toda reflexão é válida.
Um abraço a todos!
P.S.: Nunca pensei que escreveria algo defendendo, ou mesmo tolerando, o funk…
Concordo plenamente com a Li Me. Lady Gaga pode figurar como um pós-feminismo ao exibir o corpo e faturar como ele. Mas nossas NEGRAS não podem se expor que vira pornografia. Talvez falte mais análise de campo nesse texto.
Cidadão Preocupado, concordo com o que esboçou sobre meu escrito, mas isso não torna o Luiz Henrique ignorante. Diria que apenas um leitor desatento. No mais, cite o título da obra em português, visto que existe tradução para sua língua – a língua própria do debate. Do mesmo modo, não há motivo pra citar o título da obra em francês (a não ser que queira ser o que desenvolvi sobre a mímesis na Dialética do Esclarecimento), pois o original escrevi em alemão: Philosophie der neuen musik.
Att.
Realmente você foi infeliz nesse artigo preconceituoso e descuidado de informações a respeito de origem e transformações que o estilo “FUNK” sofreu e assim tantos outros estilos sofrem e podem sofrer.
Creio que esteja faltando uma leitura mais atenta do texto por parte da maioria que comenta aqui. O que percebo é que as pessoas tecem comentários no que diz respeito à musicalidade, melodias, arranjos e outras coisas referentes à de onde veio o funk, de que estilo e outros blablablas…
Apesar de não concordar 100% com o que a autora escreveu, fica claro que o ponto crucial do texto refere-se ao fato de que o funk está se tornando o ÚNICO movimento cultural que resta à periferia, inclusive como forma de sobrevivência financeira.
Não entendo pessoas defendendo letras notadamente machistas e misóginas. “Ah, mas quando o funk surgiu…” – ok, mas o que ele é agora?
Lixo.
Além de semigenital, o texto é – usando-se um clichê surrado – também genial. Explico: é fora de série – genial como dizem ali na berosca da esquina – pela capacidade analítica instigante. Não vou me referir se as construções ideológicas da Márcia Tibúri convergem com as idéias minhas, apenas me ater à análise de uma realidade feita pela autora. Até saber divergir é a marca da civilização e da intelectualidade supeior.
Ou a hipocrisia impera, ou o potencial crítico/intelectivo das massas está sumamente comprometido. Arrisco, ainda, uma terceira conjetura: no final das contas, todos querem ter publicidade e poder de voz!
Questionar o texto, fazendo inferências e/ou complementações, faz parte do processo de expansão de consciência no qual a filosofia se erige. Entretanto, lendo alguns comentários supracitados, fico perplexa com a vaidade e falta de elaboração de certos leitores.
Alguns, valendo-se de homonimias baratas para escamotear a própria ignorância, encerram-se num caos; outros, escrevendo muito e pouco dizendo, esgotam e engarrafam a própria capacidade de análise.
O objetivo do texto é, simplesmente, analisar a publicidade como arauto do apelo moral. Desta feita, qual a razão de tantos pruridos com o estilo musical mencionado?
As origens do funk, bem como suas vertentes hodiernas pouco vertiginosas, não aplacam o escárnio e a coisficação da sexualidade orbitante nas canções – de péssimo gosto – que tornaram-se um hino à drogadição. O proibidão, sim, é o viés que se apropria da dispensação dessa moralina!
O texto é reflexivo e bem elaborado, pois enseja um ponto central da lida humana: ante a putrefação dos valores éticos, qual será o norte consciencial da desvalida sociedade brasileira?
Aos prostitutos intelectuais, meus pêsames! Acho que vocês deveriam enviar seus currículos para a Cult com a seguinte inscrição: “Ego sum qui sum, um mero anônimo que procura oxigênio”.
Wilson Moreira, fico contigo!
Márcia Tiburi cada vez mais vital, salve!
Só um adendozinho evanescente: se todos os comentários tivessem o conteúdo analítico semelhante ao da corajosa Guilhermina Costa, a autora Márccia Tibúri e os leitores em geral teriam acréscimos para reflexionarem. Grato Guilhermina pela solidariedade dialética: a a generosidade é a marca de mentes elevadas com a tua.
Anote meu e-mail: straight_nochaser@hotmail.com e me contate pra virarmos o barde desse oceano de bobagens vigentes por aí…
O primeiro pensamento ao ler este artigo foi: Falar de pornografia em funk, é igual dar banana a macaco.
Desculpe Márcia, mas você realmente não sabe o que é funk. Apenas se valeu do funk mais atual.
E por ser atual, apenas reflete a atualidade, ou seja, não necessariamente o funk “impõe” uma moral, mas sim reflete a moral dada.
Se apegando a realidade, por acaso vivemos em uma época de santa castidade? Onde falar de sexo é algo proibido?
E se tem diferença é na semântica, pois falar “trepar”, “fazer amor”, “meter”, “transar”, tudo isso remete a um único ato.
Antes de soltar uma crítica desta, tem que se dirigir a realidade, pois o funk é alvo de um preconceito inimaginável, quando outros gêneros musicais falam sobre a mesma coisa e não são alvo de críticas, nem de retaliação.
Se você se desse o trabalho de fazer uma pesquisa básica nas letras em diferentes épocas, saberia que o funk como movimento popular é um retrato da realidade do gueto, da periferia.
Para mim não vejo diferença e não faço diferença entre uma dançarina de funk e uma cantora de rock que aparece com os seios a mostra. Se a primeira é vulgar, a segunda não pode ser?
E para terminar, se realmente se quiser que isso mude, mude a realidade das pessoas.
E Guilhermina, por favor traduza o que você disse no seu penúltimo e último parágrafo. Escrever bonito, com palavras difíceis também não é sinal de boa reflexão.
Funck Carioca é mais um produto da indústria do lixo que encontra solo fértil num país alimentado pela ignorância. Uma excrecência que alguns têm a coragem ou a estupidez de chamar de “estilo musical” vendido para as massas com a fórmula velha e surrada do sexo. Mas o sexo mostrado da forma mais fácil e pobre possível para se atingir o maior número possível e obviamente vender mais. Resumindo: um mero produto que usa o marketing do proibido e do revolucionário para disfarçar a sua total mediocridade e daqueles que o consomem.
” Quanto mais mercadoria produzimos, mais mercadoria somos”….
Em um mundo que não permite a experiência e a reflexão, no qual o lazer é continuidade do trabalho (labor), obrigado por me fazer parar e refletir, não sobre o funk, mas sobre a violência do cotidiano que impossibilita qualquer discussão que não seja, “opinativa” e “informativa”
SE UMA FILÓSOFA INCOMODA MUITA GENTE, UMA GRANDE FILÓSOFA INCOMODA MUITO MAIS. PARABÉNS, MARCIA, PELA EXCELENTE REFLEXÃO!!!
Não existe este negócio de ‘ponto de vista’, o que é, é, o que não é, não é. Está entendendo?
Uma pena tanto preconceito em um pensador. Esse tipo de filosofia não passa de uma reflexão sobre o próprio umbigo – quando isso vai acabar?
É engraçado como os que criticam o funk se utilizam do “beletrismo” se achando herméticos. Tentem um novo recurso, esse não cola mais. Os argumentos não se sustentam e a retórica não conseguiu salvar nada.
Camila Lima, belas palavras e muito bem fundamentadas, parabéns.
Não dá pra reduzir o funk aos proibidões sexuais (há os proibidões que tratam da violência do narcotráfico). Há também humor, crítica social e crônica do cotidiano. O funk é muito mais do que a elite quer ver nele. Deixo um trechinho da música “Não me bate, doutor”, de Cidinho e Doca, de 2001.
Apanhei do meu pai
Apanhei da vida
Apanhei da policia
Apanhei da midia
Quem bate se acha certo
quem apanha ta errado
Mas nem sempre meu
senhor as coisas vão por
este lado, violência só
gera violência irmão
Quero paz, quero festa
o funk é do povão
ja cansei de ser visto com
discriminação
lá na comunidade funk
é diversão, hoje to na parede
ganhando uma geral
se eu cantasse outro estilo isto
não seria igual
E segue o link para quem tiver abertura para conhecer algo além do estereótipo reducionista que esse movimento recebe há mais de 30 anos (não, não é uma modinha a não ser para quem não o conhece):
http://letras.terra.com.br/mc-cidinho-doca/1557086/
O moral e o imoral “rodopiam” sobre a roda dos valores numa velocidade tão grande que é difícil destacá-los. Saíram tontos e tontos e não souberam quem nomeou de cultura o lixo que não dá pra ser reciclado.
Sentar-me debaixo de uma grande árvore com um barril cheio de água fresca e esperar que alguém mude a minha realidade? Que triste!
A “prostitutabilidade” ganhou status e fama. Nada é mais necessário saber do que descer até chão.
Márcia,”tamu juntu i misturadu”.
Qando toca, eu ñ fico parada.
Ñ dá para tecer algo substancial em um comentário, mas o resumão é esse: qando toca, eu ñ fico parada.
P.S.: Amigo meu, ótimo grafiteiro entrou numa celeuma e unzinho -artista plástico de formação e talento- disse pra ele: “Eu sei o qe estou dizendo, eu estudei isso.”
O meu amigo, pessoa culta, sensível e inteligente cuja formação se limita ao estudo fundamental, se limitou a dizer: “Eu estudo isso há 14 anos.”
Nunca desprezando o estudo, a formação acadêmica, mas é muito por aí.
E o trem pulsa, movimenta… Coisas desse tipo de arte, cultura. (É arte.) Tem valor em si. Ñ adianta nhenhenhem, ñ adianta espernear, qerer firular.
A coisa é e sabe qe é e ñ precisa da validação de uns e outros.
; )
Sugestões para que a autora deste texto venha a conquistar alguma coerência:
Sugiro à autora aplicar o mesmo recorte tornado máxima genérica e descontextualizada, “A afirmação adorniana de que após Auschwitz toda cultura é lixo não perde sua atualidade.”, a todos os seus próximos objetos de análise, pois assim estará sendo coerente com a assertiva de adorno, uma vez que todos os seus próximos objetos de análise serão produtos culturais pós Auschwitz.
Sugiro à autora, pelas mesmas razões, reescrever seus textos anteriores (como por ex. aquele em que não complementa que Lady Gaga é lixo) corrigindo-os segundo a ótica adorniana que ela toma para si de que a cultura após Auschwitz é lixo.
Seguindo essas sugestões a autora estará sendo coerente com a falta de argumentação, articulação e embasamento que a levou a citar a reflexão de um autor do pós-guerra alemão para pensar uma manifestação que se dá nos anos dois mil, no Brasil, no contexto carioca.
Ou, caso a autora realmente pretenda alguma coerência, sugiro que deixe de produzir lixo, isto é, textos, pois como todos sabemos, seu texto é também um produto cultural, e, portanto, segundo ela mesma(apropriando-se de modo equivocado das palavras de adorno) é lixo.
um abraço a todos que tiveram, como eu, a má sorte de vir parar nessa página.
Dr. Freud faria seus pacientes burgueses edipianos ouvirem funk?
MARCIA TIBURI
Desculpe …mas vc nao esta’ preparada para falar de Funk. Vc esta generalizando um segmento que tem varias vertentes distintas. Esta’ sendo PEDANTE. Boa noite.
Ao comentário de Guilhermina Costa:
“Questionar o texto, fazendo inferências e/ou complementações, faz parte do processo de expansão de consciência no qual a filosofia se erige”…
Haahahahaha! Este tipo de linguajar é realmente muito engraçado! Típico de alguém que levou ao pé-da-letra a lógica aristotélica, ou o imperativo categórico kantiano… É de chorar de rir.
E Nossa Senhora, Márcia Tiburi, quanto ressentimento! Este é mesmo o grande problema da crítica: perde-se de viver para permanecer no lugar do juízo que, aliás, parece um autêntico lugar de ausência de experiência. Verdades e conexões teóricas em tons moralizantes devem valer mais… É realmente uma pena que ainda se gaste dinheiro e tempo com textos de natureza tão ressentida quanto esse… Lamentável.
Em “A nova moral do funk”, a argumentação da filósofa Marcia Tiburi gira em torno de um erro semântico: o que se designa como Proibidão corresponde ao subgênero de funk carioca cuja denominação correta é Putaria. É possível que aquilo de que ela fala não exista.
Interessados podem ler a resenha deste texto da Marcia Tiburi por Carlos Palombini / UFMG aqui :
http://www.riobailefunk.net/pt/2011/12/12/mora-na-filosofia-putaria-e-lixo/
Mora na filosofia: Putaria é lixo. Ludwig Wittgenstein afirma nas Investigações filosóficas que “uma nuvem inteira de filosofia se condensa numa gotinha de gramática”. Em “A nova moral do funk”, a argumentação da filósofa Marcia Tiburi gira em torno de um erro semântico: o que se designa como Proibidão corresponde ao subgênero de funk carioca cuja denominação correta é Putaria. É possível que aquilo de que ela fala não exista: da “performance corporal-sonora” descartada, não se dá a conhecer nenhuma música, nenhuma letra, nenhum artista, nenhum evento, plateia nenhuma. Também não se leva em conta a história dessa música, sua teoria, o que ela possa representar para quem a produz, faz circular, consome, vive. Tampouco entra em jogo a relação problemática da música funk carioca com a ideologia. “Há mais coisas no céu e na terra do que sonhadas em tua filosofia”, diz o Príncipe da Dinamarca. Uma delas é a música. Outra, sua literatura.
http://www.riobailefunk.net/pt/2011/12/12/mora-na-filosofia-putaria-e-lixo/
Triste ver o Adorno servindo de adorno.
Márcia, se tu respeitas teu título de fílósofa, vai dar uma lidinha antes de falar bobagem. Vou te passar uns sites, tá? Aí tu lês e fica mais instruída e para de empobrecer a rede com essa “moralina tiburina”:
http://www.riobailefunk.net/pt/2011/12/12/mora-na-filosofia-putaria-e-lixo/
(esse é pra entenderes o teu erro semântico)
http://lasa-2.univ.pitt.edu/LARR/prot/fulltext/Vol43no2/03_43.2sneed.pdf
(esse segundo aqui é pra reveres teu conceito de pobreza material e espiritural)
Abraço e boa instrução
caros, muito interessantes todos os textos indicados nas respostas, mas discordo da reação – talvez o problema semântico tenha mais a ver com a definição de “cultura” do que de “proibidão/putaria…
De resto, penso assim: o que seria de um grande filósofo como Adorno, se sua filosofia fosse olhada apenas por esta ótica historicista, que a circunscreve ao fenomeno temporal específico da sua criação? Prefiro os textos que de alguma forma (posso ou não concordar com seus pressupostos) apostam no carater re-semantizador da filosofia pelo que ela tem de alcance, por assim dizer, atemporal…neste caso, o texto da Tiburi é mais interessante…
Acho o artigo resposta de Palombini execrável. Ele simplesmente não entendeu que o artigo da Tiburi é justamente de denúncia contra a apropriação do funk por um mecanismo que preserva desigualdades, reafirma preconceitos, reforça sistemas de exploração cultural. O humano é tratado como utilitário e todo o utilitário tem seu refugo. Esse refugo, o lixo, só pode ser outros humanos e assim escolhe-se (sim, escolhe-se pela periferia o que ela poderá ouvir/ler) não só a parcela da população a ser tratada como lixo (os negros e pobres, basicamente) como dá-se visibilidade a esse prêmio que preserva a desigualdade de acesso a cultura. Além do texto ser pretensioso, confessa a ignorância falando demais antes de pensar no que realmente está sendo dito pela autora. Bom dia aos cavalos…
Ola Senhorita Marcia, eu queria saber por que os jornais, os canais de TV, sites, quando falam do funk, só falam do lado ruin do funk, por que nunca falam do funk do bem, de elite, queria muito que a senhorita me ajudasse a entender isso por que parece que todos querem que o funk seja reconhecido por esse lado ruin, concordo com a senhorita em algumas coisas pois sou um dos que lutam contra esse tipo de música “PUTARIA”, “PROIBIDÃO” mas eu queria saber o por que ninguem mostra o meu estilo (kadu e as Gatinhas), essas são algumas músicas minhas: Deixa a gatinha dançar, No jump, Ela é DG, eu ja falei deixa a gatinha dançar, Eu Aprontei e outras, e tem alguns artistas, Mcs que tambem são do mesmo estilo do que eu, como: MC Bruninha, Bochecha, MC Marcinho, Anitta, Marcio G e outros, até peço ajuda a senhorita para que eu posso entender o por que que não mostram esse lado bom do funk e se quizer estou a disposição da senhorita para exclarecer qualquer dúvidas, abraços e fica com Deus!!!
cara Profa. Marcia Tiburi, parabéns por mais este teu texto brilhante, e me faz lembrar do Jean-Luc Godard, quando afirmou que “a cultura é a regra e a arte é a exceção” e que a “cultura quer aniquilar com a arte”, portanto, se o funk é essencialmente cultura (como de fato o é, aliás, mera indústria da cultura), está claro que qualquer tentativa de valorizá-lo só pode ser contrária aos fundamentos da arte, digo, da “grande arte”, como aliás, diria Heidegger (que no fundo era não só leitor como admirador de Adorno, só não declarava em público porque era orgulhoso, por outro lado, o Adorno também era leitor e admirador do Heidegger, só dizia o contrário em público porque tinha pouca coragem rs rs rs)… abs RRR (PS: faço aqui à “pouca coragem” de Adorno uma homenagem póstuma à saudosa Stephanie, viúva do Eisler, foi ela quem me ensinou sobre esta característica pessoal do Adorno).
O artigo da autora não é sobre funk. Se algum marciano descesse à Terra sem saber o que é funk e lesse esse texto, continuaria sem saber o que é funk, mas saberia que a autora não sabe argumentar. Noves fora o que é funk, o que é Lady Gaga, o que é Miles Davis, ou o que é Wagner, o fato é que nada de substantivo pode ser inferido do artigo porque ele não expõe nenhum raciocínio, apenas decreta premissas e tenta encadeá-las à base de silogismo. Isso qualquer néscio consegue fazer, até para provar o contrário do que apregoa a a autora. E a partir das mesmíssimas premissas! Vejamos: Adorno disse que toda a cultura depois de Auschwitz é um lixo. Funk fala de sexo. Falar de sexo é pornografia. Funk é pronografia. Pornografia não é cultura, logo, funk não é cultura. Ora, por mais que o funk tenha surgido depois de Auschwitz, Adorno não iria concluir que funk é lixo, porque CULTURA é lixo, e funk não é cultura! Será que funk…não é lixo? Nossa, essa autora deve ser uma tremenda funkeira! É isso aí, Marcia Quebra-Cara, faça o Bonde do Adorno!!
Mas vamos supor que a autora seja paga para fazer uso de silogismos sem raciocínio; talvez seu patrão seja um tirano, não a julguemos. Mesmo assim, num texto cheio de premissas categóricas, bastaria UMA exceção a qualquer premissa para desmontar a sua tese. E não faltam exceções: nem todo funk é proibidão; proibidão fala sobre guerra de gangues, não de sexo; tudo que se cultiva é cultura, seja ou não palatável para o NSDAP ou para a autora, etc. Dá pra ficar o dia inteiro aqui. Mas comecemos pela primeira afirmação categórica da autora: “a afirmação adorniana de que após Auschwitz toda cultura é lixo não perde sua atualidade.” Não é nem uma questão de se achar uma exceção, a premissa como um todo é falsa sob critérios objetivos. Por um motivo prosaico: está errada a suposta afirmação “adorniana” (Mon Dieu! Não poderíamos chamá-la de “A afirmação de Adorno” sem sermos caçoados por nossos pares do clube privê de beletristas? Será necessário falar “adorniano” para encantar esses leitores tão sedentos por um copo de pedantismo de tanto suportar a moléstia filistina do obscurantismo funkeiro dessa Babilônia trópico-urbana?)
A afirmação adorniana é a seguinte: “a crítica da cultura se confronta com o derradeiro estágio na dialética entre cultura e barbárie: escrever um poema depois de Auschwitz é barbárico e isso corrói também a compreensão em que expressa por que se tornou impossível escrever poesia hoje.” Se essa afirmação adorniana for levada literalmente–o que é um problema, até porque está na conclusão de um ensaio, e não na declaração de tese de um trabalho científico–que ao menos seja reconhecida na sua literalidade. Até para ninguém cometer a impropriedade de intercambiar “poesia” por “cultura” e “barbárie” por “lixo”. Não importa o que o “funk” seja, sempre será mais fácil associá-lo a Lady Gaga, Miles Davis, ou Wagner do que associar Marcia Tiburi com Adorno.
Lembro com se fosse hoje a primeira vez que cantei na minha comunidade. Em minhas maos estava o meu sonho, materializado num pedaço de papel rabiscado. Esse sonho me levou longe…… cantei com Reis e Rainhas . Hoje o baile funk de comunidade e’ realizado de maneira clandestina e se tornou marginalizado por falta de atencao das autoridades. Hoje pessoas capacitadas lutam para o reconhecimento do maior movimento Jovem do País. Essa semana li’ uma reportagem numa revista renomada de Sao Paulo ESCULHAMBANDO o Funk. Uma antropologa ,Filosofa , Doutorada em nao sei o q….. me surpreendeu, chamou o funk de lixo pra baixo.
Infelizmente todo estudo, todos os livros, todas as aulas para esta pessoa foram em vao. Na escola aprendi a respeitar e aceitar as diferenças do próximo desde o jardim de infancia. Na minha comunidade aprendi a sonhar. Em casa aprendi a amar. E na Vida aprendi que toda forma de manifestação preconceituosa deve ser abominada. Mc Leozinho
Sempre haverá defesa possível para qualquer coisa. Não há políticos que conseguem explicar e justificar o dinheiro na cueca?
Quem leva a sério filosofia em 17 parágrafos de 3 linhas? Se os parágrafos fossem um pouco mais curtinhos, ela poderia ter bancado a Susan Sontag subtropical e escrito “Notes on Funk”. O texto não tem lógica (vide supra), é cheio de clichês e não consegue nem ser altissonante. É admirado por quem, de Adorno, só dá pitada. Filosofia de massa.
Então o funk é “essencialmente cultura” que não se eleva a “grande arte”? Típica ideologia não revisada, arcaísmo posrenascentista. O que é grande arte pra ti Russomano? Beethoven? Bach? Que nome alemão que pode te colocar acima do que consideras gentalha? A grande arte tem que ser legitimada na Globo News pela Maitê Proença e suas colegas? Também pode ser feita por brasileiros, desde que obedeça à “grande arte”…
Essa discussão míope sobre a arte permanece fazendo a manutenção de asssimetrias: essencializar a cultura para desnivelar é um golpe velho usado pelas elites, Sr. Russomano. Desvalorizar o funk pra valorizar os “gênios” produzidos pela cultura do século XIX é uma constante na discursália pseudo-filosófica. Mas Márcia não sabe a diferença entre “putaria” e “proibidão”. E tentar essencializar o que não se conhece, fica difícil.
Filosofia de massa, como disse o Sobrevivente de Auschwitz, além de elitista: A exclusão e a coisificação do corpo se dá justamente na carolice da moralina tiburina exposta no Saia Justa (opa! Saia justa pode, tiburina?)Pela lógica tiburina, deveríamos todos juntos cantar apenas cantos gregorianos, aí suprimíamos o capital sexual e ficaríamos só com o espiritual, além de mistificar o corpo, não é?
Em tempo: o Heiddeger não só era admirador de Adorno, como do regime nacional-socialista alemão, ou nazista, como queiram chamar (confiram seu discurso de 1933).
O próximo passo é renovarem a ocupação das favelas usando a moralina tiburina. É… fiquei lembrando do filósofo do filme Doggville, lembram? Márcia Tiburi é nosso Tom Edson em versão cruel. Se, pelo menos enquanto Grace (Nicole Kidman) era violentada, havia uma certa complacência em sua filosofia de boteco e em sua falta de ação, aqui vemos o contrário: um certo apoio ao regime que clandestiniza e aos essencialismos assimétricos. Enquanto isso, nossa Grace/povo é violentada e qualquer expressão é coisificação e falta de capital espiritual.
Não é mole!
É uma pena ver como parte do cenário decadente da música de academia (e não é daquelas putz, putz) costuma se portar: favorável aos usos conta gotísticos e vazios de fiolosifas desconhecidas, porém ruminadíssimas (vai entender o paradoxo…) por arautos de uma “cultura” inexistente.
P.S.: Parece que o Luciano foi o cavalo que recebeu o bom dia feito um coice.
Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela
Adolf Hitler
Senhora Hitler,é som de preto de favelado mais quando toca ninguém fica parado.
OPORTUNIDADE
O pancadão vai sacudir
Deixa o teu corpo balançar
Quem é do funk vem se divertir
Quem não é pode vir, pode chegar
Os pequeninos dizem por aí
Querem crescer só pra virar MC
Querem cantar, e o que tem demais?
São da favela e querem pedir a paz
Dizem aí que é apologia
Mas não é não, é simplesmente o dia-a-dia
Vivido na comunidade
E o “neguim” só quer oportunidade
Depois de ler este texto desconsiderável e assistir a este arremate:
http://www.youtube.com/watch?v=_KfbL8Kt3-w&feature=youtu.be
Acredito que a única coisa que poderia declarar já foi declarada por William Blake, repito:
“Como o ar para o pássaro ou o mar para o peixe, assim é o desprezo para o desprezível”
Grato.
P.S.: É uma pena que ela conquiste apoio de qualquer setor do meio musical (o meu meio) brasileiro. Completa decepção com alguns professores que postaram, vergonha.
oi Moralina Tiburina, por que vc não assina com o teu nome de verdade??? um verdadeiro Ombudsman sempre tem nome e sobrenome!
vou responder naquilo que vc me citou:
“O que é grande arte pra ti Russomanno? Beethoven? Bach?”
claro, vc se esqueceu do Manuel Dias de Oliveira, do Alexandre Levy (grande inventor do samba!), do Villa-Lobos, do Gilberto Mendes, enfim, todos estes são compositores de uma grande arte! (já por exemplo, o Lobão ou o Cazuza, ou Xuxa, Padre Marcelo etc. tudo isso é indústria da cultura).
vc fala de “elite”, Moralina????? coisa de elite são os shows quase sempre caríssimos de indústria da cultura. Por exemplo, aqui na minha cidade, Ribeirão Preto, este marketing cultural do show biz aluga sempre os melhores espaços, mesmo aqueles de boa acústica natural onde sequer se necessita amplificar o som (como é o caso do excelente Theatro Pedro II daqui, por exemplo, uma tristeza como maltratam o teatro), aí vem aquelas caixas de som enormes com reprodução invariavelmente barulhenta do som – é isso que Adorno chamava de desartização da música, muito barulho pra pouco conteúdo! – já os nossos concertos sinfônicos ou de câmara são sempre gratuitos, portanto, são projetos absolutamente populares, no sentido de que todos têm acesso fácil e imediato a eles! ou seja, há muito mais elite na indústria da cultura do que na música de concerto. E olha que nós sempre tocamos tranquilo (sem sensacionalismo, sem show, sem pulação, sem luzes nem efeitos especiais). É pra se ouvir música de maneira concentrada enquanto música. Ou como dizia Heidegger, “só ouvimos de fato quando somos todos ouvidos”! E de maneira bem simples, como já disse, sem muita parafernalha, com recursos infinitamente menores… A gente da arte da música vem de baixo, já a indústria da cultura é que vem de cima (precisa se aliar o som musical sempre a um visual de grande happening, algo invariavelmente apelativo… a gente não precisa de nada disso, daí nossa música ter que ser de fato mais exigente, pois as pessoas vão lá pra ouvir música, não pra “bombar” (desculpa a expressão de mau gosto) num show!
vc disse ainda “Desvalorizar o funk pra valorizar os gênios produzidos pela cultura do século XIX é uma constante na discursália pseudo-filosófica”.
Eu não penso de acordo com o século XIX, eu penso de acordo com Heráclito, que dizia “um, dez mil, se for o melhor”, bem como Heráclito já dizia “a massa está empanzinada como o gado”! Como todo bom filósofo, Heráclito era também profeta, pois escreveu no século VI antes de Cristo e seus fragmentos continuam atualíssimos! Parece que ele está falando da indústria da cultura – esta invenção do século XX que já deu o que tinha que dar (um dia a ficha vai cair e como toda distorção ideológica a favor de uma estrutura de poder, a indústria da cultura também ruir!… – e acho sim que a arte de verdade, por ser um fundamento da história, vai conseguir sempre sobreviver). Ou vc quer dizer que qualquer atitude proponente ou afirmativa em matéria de arte é mero romantismo???? Como vc é excludente! – eu não posso ter sequer opinião??? Lembre-se que Platão entendia a doxa como processo imprescindível para a episteme! – Poxa, mas se tudo isso é mero romantismo (daí vc ter colocado “gênio” assim entre aspas, suponho), aí eu tenho que dar realmente razão pra vc, pois sou mesmo um romântico incorrigível, adoro idéias de verdade, propostas de arte e de filosofia que fazem a gente ser imediatamente diferente, adoro Heráclito, adoro Bach, adoro as tragédias de Eurípedes, adoro Dante Alighieri, adoro Brecht, adoro todos estes e demais românticos de todos os tempos!
vc disse também: “Em tempo: o Heiddeger não só era admirador de Adorno, como do regime nacional-socialista alemão, ou nazista, como queiram chamar (confiram seu discurso de 1933)”.
Vc está generalizando um curto momento na vida de Heidegger (que sempre esteve inclusive muito próximo a tantos judeus e comunistas e de maneira mais íntima – leia, por exemplo, o que a Hannah Arendt – e olha que ela entendia alguma coisa de totalitarismo, não é mesmo? – escreveu sobre Heidegger num de seus últimos textos, quando ela – justamente ela! – o trata como o grande filósofo do século XX). Heidegger ficou um tempo muito pequeno no partido e bem no início, e ele queria na verdade criticar a modernidade, achou que os nazistas tinham algo de recuperação daquilo que ele entendia por Dasein. Bom, está claríssimo que foi um equíovoco terrível de Heidegger, ou seja, ele errou feio na leitura do que seria o nazismo. Mas como dizia Lênin, o “homem inteligente não é aquele que não comete um erro, mas sim aquele que o corrige rapidamente”. E eis que Heidegger deixou em menos de um ano seu posto de reitor em Freiburg e se afastou totalmente do nazismo – ainda mais quando Heidegger percebeu que o nazismo é na verdade o grande triunfo do terror tecnocrata (e isto era o que Heidegger justamente queria combater na modernidade!). Vários autores, como o Prof. Ernildo Stein, esclarecem este ponto. Indico, portanto, o Prof. Stein da UFRG pras suas próximas leituras! Não se pode culpar unilateralmente o Heidegger naquele contexto, pois vários grandes homens caíram na sedução de Hitler nos primórdios de seu programa, como Anton Webern, por exemplo. Lembre-se que os nazistas consolidaram ainda o projeto de inventar a cultura popular iniciado pela igreja no final do século XIX. E os nazi-fascistas (muitas das idéias originais vinham de Mussolini) eram muito competentes em propaganda e marketing (mesmo porque eles inventaram de fato o marketing e a propaganda moderna!). É por isso que o Adorno disse certa vez que Auschwitz é igual a Hollywood, é por isso que a essência do nazismo está bastante presente ainda na indústria da cultura mesmo ainda em nosso século XXI, vc quer exemplos?????? Portanto, não confunda Heidegger, que tem a ver com a compreensão do que é arte (leia o texto dele, “A origem da obra de arte”, muito bom!), com o nazi-fascismo, que, por sua vez, tem a ver com a indústria da cultura – não é por menos que Berlusconi adora (ou adorava) tanto citar frases inteiras de Mussoluni…
abraços a vc e agradeço pela atenção, bem como pela troca fecunda de idéias!!
Rubens Russomanno Ricciardi
Pra mim essa professora continua escrevendo filosofia de buteco, serve ao seu patrão que elegeu uma manifestação de uma parcela da população restrita a um espaço urbano limitado como cultura. Na verdade não vale nem a pena comentar esse monte de bobagem que essa dona teima em escrever.
Os comentaristas deste texto citam filósofos. Citam passagens de tratados estéticos, citam os mais diversos intelectuais, doutores, críticos. E tudo para desmontar a crítica rasteira de uma filósofa. Tanto esforço da rapaziada para sair em defesa de um gênero musical vagabundo, chulo, piegas e que pretensamente revolucionou o modo como as classes sociais menos favorecidas se expressam. E eu achando que o samba de roda baiano da metade do século XIX, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, já havia feito todo o caminho transgressor, libertador e crítico, dando origem a maior manifestação musical e social carioca, o samba, tivesse feito todo o serviço, Obrigado amiguinhos que me mostraram que o Funk Carioca que é o tal. Esse impiedoso redentor do homobrasilis.
caro Dodge Mann, vc disse “samba de roda baiano da metade do século XIX”, por favor, me passa o nome de um autor, o título de um samba ou mesmo qualquer fonte desta época (fonte primária histórica, por favor) que indique de fato um samba enquanto gênero musical anterior a 1890!!! Caso vc não tenha isto em maõs, continua valendo o pioneirismo do paulistano Alexandre Levy (inspirado num poema de Julio Ribeiro), cujo “Samba” (na verdade um lundu sinfônico) é justamente de 1890… agradeço o retorno!
Funk? Não seria: Fuck? Pois, não passa disso. É tão pobre, tão raso, tão lixo. Estou indignado comigo por haver perdido meu tempo enviando este comentário. Cultura? Hahahahah. Façam-me rir!
Recomendo que reze esta oração antes de dormir, Márcia:
“Que o Céu nos livres dos primeiros romances que são escritos porque um jovem aspira ao prestígio de ser romancista e não porque tenha algo a dizer!
Que o Céu nos livre, igualmente, dos ensaios matemáticos que sejam corretos e elegantes, mas destituídos de corpo e espírito.
Que o Céu nos livre, sobretudo, do esnobismo que não somente admite a possibilidade desse trabalho apoucado e maquinal, mas deblatera, com espírito de arrogância depreciadora, contra a competição de vigor e ideias, onde quer que se possam encontrar”!
(Wiener, 1950)
O academicismo é o senso comum da academia. Essa menina, com todo o seu moralismo elitista – a intelectualidade classe média – faz parte do grupo “acadêmicos do senso comum” (grande sucesso na mída não massiva, atenção, não massiva). Mas dessa vez eu acho que ela estava fora do juízo, talvez cheia de anti-depressivos na cabeça. Insônica por dilemas que o analista não conseguiu resolver (não são todos os mortais que chegam lá, né?).
Concordo com a Srta. Marcia Tiburi,
Como deve aceitar que funk deva ser considerado uma forma de expressão positiva, canções onde a exploração sexual é escancarada e que não fogem dos ouvidos de ninguém. Essa pornografia livre para que todos devam participar é imposta (digo isso pq moro em uma) na favela. Culturalmente imposto na comunidade o Pancadão, Proibidão ou Putaria, impõe suas regras de aceitação, não permite outras manifestações na periferia.
Aos Mc’s
Vou comer sua b
Vou fu o se c
Me digam onde esta a arte nisso?
Abraço a todos
Parabéns Srta. Marcia Tiburi
A reciclagem do lixo Tiburiano.
Pós Marcha das Vadias me sinto liberta suficiente para falar de um assunto que me incomoda.
Já ouvi muitas vezes sobre a relação do Funk e a degradação do corpo da mulher… Críticas quanto a falta de consciência social inserida no contexto do funk são recorrentes…
Até ouvi que ele era o “lixo( o resquício de revolta) da favela que chegava aos narizes da burguesia” . Depois da última, a obrigação de manifestação enquanto mulher oriunda de periferia foi de tirar o sono, literalmente!
Ai fiquei refletindo acerca de manifestações musicais que têm um cunho social em paralelo
-me veio o Punk, na cabeça…
O Punk surge na classe baixa inglesa como uma das respostas a crise do capitalismo do pós-guerra. Crise essa que custou desemprego e exploração ainda maior daqueles que não podiam exigir muito do mercado; afinal era muito mais justificável não respeitar direitos trabalhistas para mulheres, negros e etnias menos favorecidas do que para o homem branco. Pelos motivos “óbvios” do patriarcado branco, nosso veeelho conhecido. Esse mesmo Punk é marcado pelo principio do “faça-você-mesmo” que grita contra a elitização da música e dialoga harmonicamente com filosofias niilistas.
Daí voltando ao Funk, fazendo uma analogia percebo que há sim fatores comuns. A política do “todos podem fazer”, as origens em classes baixas, e a questão política….?
Pois é, concordo em partes com o argumento da degradação. Quando a mulher se encontra numa situação de exposição do seu corpo como objeto de manobra masculino, isto de fato é um problema. Pois sua imagem é coisificada PELO homem e para o prazer do homem.
Mas percebo em outra medida que no momento que são as mulheres donas das suas letras de funks, e que por meio dessas, questionam a submissão ao trabalho doméstico e a prisão da liberdade sexual da mulher. Os princípios de segmentos feministas estão ai tão presentes quanto na queima dos sutiãs.
A sociedade está a todo tempo crucificando a mulher do funk que se expõe, que goza, que anseia liberdade dentro da sua cultura. Essas mulheres sobem em um palco e gritam que são putas e não querem ser mais “as empregadinhas”.
A lógica é simples: Se é pra nos tratar como coisas, nós seremos coisas. Mas coisas de nós mesmas. Meu corpo pode até ser um objeto de consumo, mas ele é meu. Eu vou vendê-lo do jeito e pra quem e quando EU quiser.
Se este não é o feminismo ideal (se é que ele existe) construído dentro da academia, na periferia ele significa a possibilidade de se sofrer um estupro corretivo ou ter os seios cortados enquanto se espera o ônibus na parada ao lado de casa. Penas,possíveis, para aquelas que se “comportam” como homens ou por não quererem transar com determinado individuo do sexo masculino quando este acha que ela é puta, vadia ( e todas aquelas denominações que eles nos dão, quando a gente dá pra quem queremos).
“Resquício de revolta?lixo?”…..o que vocês acham minhas caras?!
Realmente, Simone de Beauvoir não é a autora de livros de cabeceiras das mulheres da classe baixa (muitas vezes nem das mulheres de classes altas e medias). Por diversos motivos:
analfabetismo, educação ruim , falta de possibilidade de comprar o livro com o salário de merd… que recebem, falta de tempo.
Porque!? A realidade, a cultura da classe baixa é diferente das demais assim como o caso das mulçumanas que quando dirigem correm até risco de vida e mesmo assim estão lá marcando suas posições como feministas.
A construção do feminismo em cada cultura foi marcada pelos seus degraus de ascensão
com a nossa não vai ser diferente.
Concluindo meu desabafo espero não ouvir “analises” preconceituosas de pessoas que não fazem ideia do que é viver na periferia , principalmente porque querendo ou não hoje faço parte desse mundo “Cult” que a universidade nos insere e que tem coisas muito legais mas que volta e meia encontramos uns e outros com discursos rebuscados mas preconceituosos.
E agora não só sinto que tenho o direito de descer até o chão, mas tenho dever para com os meus princípios, no entanto isso não dá o direito de ninguém achar que minha vontade deve ser desrespeitada.
Caríssima Márcia Tiburi, vejo que suas incursões nos mais variados e contemporâneos temas sociais, sexuais, musicais, e todos intrinsicamente ligados filosoficamente, pois o simples pensar e existir resulta como premissa uma filosofia.
O seu texto está belissimamente escrito e argumentado pois o olhar de uma filósofa sobre uma realidade transparente, é tão verdadeiro como o olha de outra pessoa qualquer, simples, sem instrução formal mas com lógica e pensamento firme de como realmente a cultura/arte, ou mais especificamente sobre o funk aqui retratado pela professora, nos remete a concordar com o escrito pelo simples fato de conseguirmos enxergar nele a coisificação, o sexismo vulgar sobre a mulher e por aí vai.
Uma observação pessoal e vai aí como um reforço para que você continue se colocando sempre sobre os variados temas, é que de suas opiniões atingem e incomodam muito alguns que não tiveram a mesma oportunidade de mídia e transparência que a professora conseguiu. Parabéns e não se incomode com a oportunidade de ágora e de palco que sua inteligência provoca.
Prezada Márcia.
Gosto muito do que você escreve. É uma visão lúcida da realidade, que a academia não deixou que ficasse nublada pelas múltiplas visões de teóricos. À você, estas diversas interpretações caem bem, pois se somam às suas. Em outros, mostram que determinadas pessoas não conseguem enxergar um palmo além dos livros que leem, sem apropriar-se dos conhecimentos e agregá-los à luz própria e compará-los com a realidade.
Concordo com a Cleusa Rizério. A sua inteligência provoca e incomoda.
Boa Noite,
Excelente espaço para filosofar!
Vou adicionar o que é obvio ao tópico, toda classe social, já que a sociedade em geral gosta de ser diferente…
…os consumidores desta tal pornografia “proibidão”, recebem de uma forma que podem tanto aceitar ou não todos temos barreiras que podemos utilizar e bloquear…
…A periferia pode consumir tanto essa pornografia como “uma pornofrafia mais sofisticada” uma parte do sertanejo que está na modinha, que usa palavras menos violentas ou sinceras e fortes como o proibidão…
Assim como o proibidão a modinha sertanejo e antiga modinha axé, usam gestos sexuais, subliminares, que para as pessoas fala mais que as palavaras forte do proibidão, pois em qualquer pais, gestos conseguem ser interpretados facilmente, sendo assim, todas as classes precisam consumir algo…
A periferia não é a única “classe”/local que recebe pornografia que agride, ela está em todo o lugar, de formas desfarçadas, mais sutis, delicadas.
Abraços!!!
Não sou da favela do Rio. Mas sou obrigada a ouvir essas “batidas” (desculpem-me os fãs, mas é o máximo que se pode dizer desse gênero. “música” seria exagero). Não fui criada para ser preconceituosa; meus pais simplesmente me ensinaram que eu deveria refletir sobre o que eu escolho para mim. Ao me deparar com o Funk – admito que algumas vezes seus autores procuram passar uma mensagem, o que é bom e deveria acontecer com todos eles – me coloquei a pensar, porque uma garota de 14 anos (às vezes menos) se presta ao papel de rebolar até o chão sendo chamada de puta ou de cachorra? Ela não tem um marido opressor de quem quer se libertar, não tem nem vida sexual (ou pelo menos não deveria ter, até ser formada mentalmente para isso.). Então eu pergunto: onde está a cultura, a demonstração de pensamento nisso? Onde está o valor em frases nojentas como “rebola na p*ca?” E aquele outro, que fez tanto sucesso, o tal de Créu? Se é para fazer uma música que não seja “de elite”, que faça, mas ao menos faça isso direito. Só porque não é de elite não tem que falar nada de bom? Infelizmente isso não acontece apenas com o funk, tem acontecido com o sertanejo, com o axé, com o forró… Todos os ritmos que são feitos para as “classes baixas” não tem conteúdo intelectual. Será que é porque eles acham que pobre só entende e só gosta de porcaria? Isso é um preconceito e as pessoas deveriam perceber isso, ao invés de engolir essas baboseiras e ainda achar ruim quando alguém fala mal.
Nossa…Só fatou falarem que o Rap e Hip Hop são músicas de bandido…Ou vão dizer que não são politizados?
Quem critica a Marcia como bestas feras e acha que tudo o que ela escreveu sobre o funk é grotesco é porque não mora ao lado de uma comunidade onde tem baile funk e é obrigado a ouvir aquelas letras nojentas a noite toda.
Para fins de elucidação, não sou Antropólogo, Sociólogo e tão pouco filósofo. Mas isto aqui já a muito virou uma disputa de classes de argumentação teórica, sobre ser ou não ser, sobre saber ou não saber. Me desculpem vir aqui enfatizar que enquanto a autora crítica o na verdade i-moral da cultura funk, outros prestigiosos e magníficos senhores se põem a criticar Bach! Mozart!. Meus senhores, ainda sou jovem, e com certeza disponho de pequena parcela da sabedoria de vocês, mas noto um nítido nutrimento por parte de vocês, do prazer pelo levante da porcaria que atulha o mundo, e uma raiva expressa contra a argumentação da autora. Em meus sinceros pensamentos e reflexões, ainda me sinto feliz por existirem pessoas que se põe a criticar a falta de senso e coerência daquilo que chamamos cultura.
É verdade que os críticos do artigo da Márcia se focaram antes no argumento de um suposto erro semântico do que na pessoa dela, tática rasteira e cada vez comum em debates na minha ótica. Discussões a parte do que seria um proibidão, se a crítica da filósofa reside no conteúdo e no universo de muitas letras que desfilam em carros rebaixados e explodem em bailes funk, dêem o nome que quiserem a isso, utilizem-se dos autores que quiserem, mas elas são sim a coisificação do ser humano, a mercadorização deste. Se não são, os cavaleiros da guarda dos oprimidos com a palavra: “mão na cabeça vai até o chão, dedinho na boca vai até o chão
rebola pra mim, vai até o chão, chão chão (chão chão)
caraca é danada
mão no joelho vai até o chão
rebola pra mim, vai até o chão chão chão chão” (MC Jair Da Rocha).
Se a Jessica aqui não se reduziu “a um dedinho na boca descendo até o chão”, seria o que então? Verdade seja dita, a mercadorizãção do ser humano está longe de ser privilégio do funk, mas querer reduzir o debate em torno do conteúdo do funk a uma batalha de “cultura de elite x cultura do oprimido” é fácil demais. E aí os críticos da Marcia enveredam para um modismo há anos reinante na academia brasileira: O relativismo cultural. A moralina tiburina no seu comentário de 15/12/2011 diz: “A grande arte tem que ser legitimada na Globo News pela Maitê Proença e suas colegas? Também pode ser feita por brasileiros, desde que obedeça à “grande arte”…
Moralina, para mim especificamente falando, pouco importa se o opressor, se o estuprador tem dez correntes penduradas no pescoço, junta indicador e o médio e cruza os braços, veste-se de forma berrante ou então veste smoking e borrifou um Boss no seu corpo: A mercadorização é a mesma. Mas que diabos, quando alguém critica o funk, os dedos apontam-se para o crítico como sendo um elitista opressor das manifestações legítimas da periferia? Segue a moralina: “Pela lógica tiburina, deveríamos todos juntos cantar apenas cantos gregorianos, aí suprimíamos o capital sexual e ficaríamos só com o espiritual, além de mistificar o corpo, não é”? Dou meu parecer extremista e estabeleço o norte do debate não é? Vou citar a letra de um membro da elite e a de um favelado então para vermos que a coisa não é tão simples assim:
“E fiquei tanto tempo duvidando de mim
Por fazer amor fazer sentido.
Começo a ficar livre
Espero. Acho que sim” (Se Fiquei Esperando o Meu Amor Passar, Legião urbana).
Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim (Cartola)
Moralina, será que o espiritual e o físico estão dissociados nessas duas letras? Será que o sexual foi suprimido nas letras acima? Ou será que Renato Russo e Cartola buscaram um pouco mais o espírito sem deixar de “serem humanos”, mas para continuarem humanos não precisaram vulgarizar as suas palavras pois seus obejtos de amor eram mais que pênis ou vaginas, mas a completude deles mesmos? E é caso de opinião: Penso que o homem pode desfrutar do sexo mas não se reduzir a uma personagem das peças do Marques de Sade, apto a coisas que equinos também podem fazer não tendo estes últimos nem mesmo a consciência de si próprios! E se tratarmos o caso de funkeiras que livremente dispõe do seu corpo como querem, seja: Mas não poderão se irritar se são criticadas porque reduziram-se elas mesmas a um objeto de fetiche não mais valioso que uma cerveja gelada (minto – devem ser um pouco mais caras)! Desculpem-me, podem me “xingar” de elitista, mas a arte pode mais que isso!
No meu comentário anterior, onde se lê: “tática rasteira e cada vez comum em debates na minha ótica” leia-se “esta última, uma tática rasteira e cada vez mais comum nos debates na minha ótica” e onde se lê “Penso que o homem pode desfrutar do sexo mas não se reduzir a uma personagem das peças do Marques de Sade” leia-se “Penso que o homem pode desfrutar do sexo mas não precisa se reduzir a uma personagem das peças do Marques de Sade”. Grato pelo espaço!
Colocações pertinentes, Ricardo G. Penso eu, cá na minha insignificância de ser homem (pois, “homem só pensa em sexo”), que tudo parece caminhar mesmo para um pretenso esvaziamento de sentidos, muitas vezes com a audácia de se autodenominar “evolução”. Dos tempos, das mentes, dos comportamentos. Assim, justifica-se um individualismo visto por uma ótica difusa ou não muito clara de perversão existencial, onde a natureza selvagem de certas experiências já não basta, completa, satisfaz.
E a liberdade, ah, como torço por ela, que te tão bela se deixa travestir de tantas outras coisas e motivos obscuros. Torço pra que, às mulheres, a liberdade tenha servido e ainda sirva de refúgio à opressão, violência, desamor. Vi e aceitei, mesmo com minha cabeça de heteressexual quase que necessariamente machista, que elas precisam ser elas, suas roupas, seus sapatos, suas vaidades quase que necessariamente fúteis. Mas este é mal que ainda tem conserto.
Torci pra que as mulheres dessem uma lição nos homens e que lhes ajudassem a melhorar no que ainda têm de bom, de melhor. Homens são óbvios e patéticos, caberia à sua contraparte evoluir e não involuir e se rebaixar ao mesmo nível. Fico triste em constatar que, apesar de alguns avanços importantes, as mulheres estão usando sua maior liberdade [plena, ainda não] de forma equivocada e até autodestrutiva. O homem é muito mais suscetível ao condicionamento comportamental pela mulher do que o contrário. As mulheres têm mais poder de decisão nesses questionamentos do que pensam, ainda que não o exerçam de forma direta.
Não sei se nos afundarmos todos nos nossos instintos mais primitivos e animalescos, com o “condão” de transformar tudo em arte seja a solução ou, paliativamente, uma “evolução”. Fato é que há, sim, em curso, a construção de um “nova moral” nas nossas relações sociais. Não que uma “moral” nunca estivesses em construção, pois sempre está, mas o que torna o momento atual pertinente é que estamos claramente e esvaziar e modificar “valores” intrinsecamente conectados à nossa cultura e valor pessoal. Penso que o produto proveninente de maior conhecimento e desenvolvimento deveria ser melhor do que o que aí está.