Memória e imaginação
(Arte Andreia Freire/Fotos Alberto Henschel)
“Êta menina preguntadeira! Eu lá quero saber de história triste?”, interrompia minha avó quando eu insistia em perguntar se os pais dela tinham sido escravizados ou pedia mais detalhes de sua infância na década de 1920. Esquecimento como proteção. Mas, de algum modo, eu acessava a importância de lembrar. “Onde estão os livros que contam as histórias de quem não está nos livros da escola?”, perguntava para minha mãe, professoras, bibliotecárias. As respostas, ao longo dos anos, me permitiram colecionar referências dispersas. No último 18 de julho, minha menina preguntadeira vibrou ao entrar na sala de pouco mais de 50 metros quadrados em um edifício comercial no centro de Salvador. No Irohin – Centro de Documentação, Comunicação e Memória Afro-brasileira, estão sendo catalogados cerca de 2500 livros, além de panfletos, cartazes e jornais publicados pelo movimento negro nos últimos 45 anos.
O professor e jornalista Edson Cardoso, cordenador do Irohin, me recebeu. Já estivemos juntos pelo menos outras duas vezes. A generosidade com que compartilha saberes é a mesma que o motivou a doar sua biblioteca ao Irohin, fundado por ele como jornal em 1996. Depois da Marcha Zumbi dos Palmares, em 1995, a preocupação de Edson em registrar memórias ganhou corpo na publicação que reunia reflexões de lideranças do movimento negro. “Se não registrássemos aquele processo da Marcha, diriam que nunca aconteceu. A política, como diz Hannah Arendt, é feita a partir de fatos e eventos. Estes podem ser apagados ou distorcidos. Por isso
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