Maternidades

Maternidades
Mulher com criança morta (1903), de Käthe Kollwitz (Käthe Kollwitz Museum)
  É importante que se escreva no plural: a experiência da maternidade não é a mesma para todas as mulheres, assim como a paternidade em relação aos homens. Lacan, aquele pedante genial, dizia que as mulheres precisam ser contadas (ou compreendidas, não me lembro) uma a uma. De acordo com esse postulado, a diferença subjetiva entre cada mulher e todas as outras impossibilita pensar nelas (em nós) como coletividade de gênero. Não sei se concordo com ele no geral, mas, no que se refere à maternidade, sim: essa experiência é diferente para cada mulher. Vou citar alguns exemplos genéricos na tentativa de, ao final deste artigo, acenar com alguma hipótese de resposta. Começo pelo pior: como é a experiência da maternidade para uma mulher que engravidou de um estupro? Algumas haverão de abortar – hipótese que considero legítima. Outras, tementes a Deus, se sentem obrigadas a levar a gestação até o fim. O aborto seria um pecado. Mas, com alguma frequência, mulheres que tiveram filhos para não ser castigadas por Deus acabam por castigar, elas próprias, os pobres filhos indesejados. Eu me pergunto, aliás, por que, para tanta gente, o pobre Deus é visto como um déspota incapaz de compreender os problemas experimentados por suas criaturas. Por que Deus permitiria o nascimento de um bebê deformado desde a concepção e ameaçaria com o fogo dos infernos a decisão da mãe que, nesse caso, tenha escolhido – não sem sofrimento – abortar? Já escrevi um artigo sobre o tabu do aborto, em minha coluna mensal para a CartaCapital, chamado

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