Marielle Franco
(Ilustração: @fsaraiva)
Na luta por democracia, liberdade e igualdade
a jovem negra e seu turbante pararam a cidade
Filha e mãe, uma guerreira
como as mulheres desta nação
que representa a alma brasileira
Alma feminina com corpo de mulher
como tantas que caem, rastejam
mas levantam-se e brilham de pé.
Nunca foi fácil, uma desatadora de nós
batalhou dias e noites, noites e dias
assim formou-se e concluiu sua pós
Negra e favelada, incomoda muita gente
por onde passa é a mais inteligente
não perdeu sua decência, recato e educação
mesmo convivendo na Câmara
com um amontoado de ladrão
Oradora de primeira que acreditava no que dizia
que educação e cultura fazem parte da periferia
Não hesitava em defender com garra
beltranos e fulanos
ostentando sua camisa dos direitos humanos
Não deixou passar batida qualquer confusão
questionando seus colegas, o magistrado
e até mesmo a intervenção
Amparou os familiares de honrosos policiais
que numa inundação de terror
tornaram-se vítimas fatais
Na Casa das Negras
rua dos Inválidos, número cento e vinte e três
fazendo aquilo que amava pela última vez
Num belo discurso traçou o seu caminho
recebendo aplausos com amor e carinho
deixando também seu último abraço
que ironia do destino
pois, antes exaltava com os amigos
o merecido mês de março
Atrocidade sem precedentes
a morte fatídica de Anderson e Marielle
mexeu com muita gente
Gente do bem e gente abalada
os que andam de trem e trabalham na calçada
gente legal e aterrorizada
gente com moral que se sente revoltada
gente nossa e gente estrangeira
que em vários países ergueu a mesma bandeira
Bandeira de luta, bandeira de paz
que a impunidade e injustiça saiam de cartaz
Cartaz daqueles coitados
que trincaram seus tetos de vidro
perguntando sem respostas:
– Quem matou o Amarildo?
Tomara que um dia possamos escrever
o nome de boas pessoas
para que elas mesmas possam ler
Essa luta agora é nossa
deixa com a gente
quando o teu nome for escutado
responderemos “Presente!”
por Lucas Lezo