Fenomenologia do poder
A filósofa Marcia Tiburi (Foto Simone Marinho / Divulgação)
Se o poder se estrutura, na definição de Foucault, como “dispositivo”, ele é o conjunto das teorias e das práticas, dos discursos religiosos, políticos ou publicitários, dos atos de governo, das manifestações populares, dos meios de comunicação que funcionam entre si. As instituições, do Estado à família, se constroem com o poder, do mesmo modo que as relações entre indivíduos são atravessadas pelo poder.
“Rede” é um conceito contemporâneo muito interessante para entender o poder, pois define sua presença em todos os lugares e o nexo entre seus elementos em jogo.
Ora, é justamente a noção de jogo que pode nos ajudar a compreender o poder para além do nexo entre elementos. Quando falamos de poder, falamos de “jogos de poder”, “jogos de forças”. Adorno, por exemplo, definiu o poder nessa linha, como um jogo de forças.
A partir do conceito de “jogo”, temos que o poder se manifesta como opressão, força, dominação e até sedução. O poder não é apenas uma rede, mas uma rede que se movimenta na direção de capturar algo. Ela não é apenas um estado de coisas. Tem um objetivo, como a teia que tem a função de capturar moscas.
Se a rede do poder define uma certa cartografia, fios que se enredam configurando um desenho, o conceito de jogo nos permite pensar o movimento que “joga” a rede, as linhas entrelaçadas que servem para segurar algo. Importa, portanto, entender o movimento da rede para capturar um objeto.
Em outras palavras, se o poder existe para manter-se a si mesmo, para sua própria sustentação, e
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »