A democracia brasileira entre o desafio e a urgência: sobre as eleições de 2018
(Arte Revista CULT)
Neste momento, especula-se sobre a eleição de 2018. O golpe parlamentar é uma possibilidade real na continuidade nefasta do golpe de 2016 que depôs Dilma Rousseff numa das manobras mais bizarras dos donos do poder que ocupam a política até esse momento.
Enquanto isso, cidadãos perdem direitos básicos como os trabalhistas, os direitos fundamentais e o desejo por política e por cidadania, que são basicamente a mesma coisa, permanece arrefecido aos olhos da maioria.
Fomos levados a servir aos donos do poder, mesmo sem querer. E, como escravos, ficamos quietos diante da violência em que se transforma esse poder. Algumas vezes, gritamos indignados, mas temos dificuldade de sair desse quadro de obediência ao estado de coisas injusto que destrói a política e com ela o país, as instituições e a sociedade. Por isso, não estamos nas ruas. Estamos, além de deprimidos, desorganizados e para mudar isso, precisamos melhorar a nossa comunicação, falar mais diretamente entre nós todos.
Muitas pessoas dizem que “falamos para dentro da bolha”. Mas nem dentro da “bolha política” há real entendimento. Se conseguirmos produzir uma base de entendimento, talvez possamos passar aos atos que se tornam urgentes nesse momento.
Refiro-me à necessidade de superar fissuras políticas históricas. A crítica e a análise que caraterizam certas vertentes da esquerda nacional, devem ficar alertas, mas precisamos de uma autocrítica que nos livre da prepotência e de qualquer resquício de ressentimento que possa haver para seguirmos em frente.
Algumas das disputas que vivemos em certos momentos se colocam no cenário de uma crise da qual só se beneficia a direita que acaba por ganhar eleições sem nenhuma consciência e com muito oportunismo. Fica muito fácil para a direita vencer eleições com uma esquerda desarticulada. A direita (corrupta e fascista) está sempre de antemão organizada, pois ela conta com o autoritarismo naturalizado na sociedade. Conta com o poder que não quer mudar de lugar nunca.
Antes de seguir, gostaria de sugerir algo como uma “suspensão dos juízos” ou de julgamentos que possa melhorar a nossa inteligência política. Em vez de julgar a esquerda dos outros, vamos pensar que devemos devolver o Brasil aos brasileiros, o que só acontecerá com a vitória de uma frente democrática mais capaz de autocrítica e de transformação social real do que nenhuma outra na história.
Precisamos tanto de uma parada para pensar quanto de uma parada para agir. E precisamos de mais amor. De muito amor. Uma ação mais direta em termos de política, um pacto mais consistente que nos leve além do espírito de inércia que deprime a nação só será possível se investirmos amor, aquele amor de generosidade e gratidão que é mais fácil de exercer à esquerda do que à direita. Amor é uma categoria política, não é à toa que tentam domesticá-la e torná-la impotente.
Todos querem superar divisões nesse momento. E como faremos? Isso passa por unir os partidos, unir tendências, unir liderenças e militância, inclusive. Desde o fim da ditadura não havia tantos motivos para produzir essa união que tem que acontecer de uma maneira estratégica e organizada. Já há muita gente unida e precisamos unir mais gente ainda em nome da democracia. Puxar o freio de mão da destruição que assistirmos agora só será possível a muitas mãos.
Nesse sentido, seria mais do que importante levar muito a sério a presença e a ausência de Lula na disputa. E de outro personagens que despontam como alternativas e ele. Em quem investiremos nossos esforços e em que ordem vai depender do que acontecer com ele. Não sei se é possível negar essa lógica nesse momento em que muitos esperam por algo totalmente novo e milagroso. Vamos produzir algo assim, mas por enquanto não me parece possível, Temos que lutar com armas disponíveis.
Nesse sentido, devemos contar com o amor que a população brasileira tem por Lula, mas também com sua capacidade de negociação com setores diversos (em que pese que será necessário também de sua parte uma autocrítica devido a erros do passado e uma correção de rumo). Devemos contar também com a coragem de Ciro Gomes, com a inteligência política de Manuela D’Ávila. Qualquer um dos dois daria uma bela chapa com Lula ou sem Lula. Não podemos esquecer de Guilherme Boulos, grande personagem da política atual, que também promete muito e de Áurea Carolina que será candidata a deputada por Minas Gerais, e que um dia será candidata à Presidência.
Lastimamos como está o Brasil nesse momento, mas a esperança é uma categoria política e temos que nos reerguer com ela. Garantir a democracia com respeito à Constituição e ao voto é um aspecto urgente no momento. A injustiça produzida contra Lula ajuda a destruir a democracia e o Brasil como um todo. A injustiça corre solta e os autoritários da vez seguem governando a coisa pública com objetivos pessoais.
Essa não será uma eleição comum. Ela não se dará em um ambiente democrático como a ameaça parlamentar nos faz ver. Somar e produzir uma espécie de geringonça brasileira a exemplo do que acontece em Portugal hoje tem sido uma ideia levantada por muitos pensadores. Portugal tornou-se a nação mais interessante econômica e politicamente da Europa por fazer duas coisas impossíveis a olhos pouco ousados: reunir as esquerdas e governar sem aderir ao neoliberalismo.
Esse é o programa. Superar ressentimentos, picuinhas possíveis e o moralismo pequeno-burguês para unir esquerdas deve ser tomado não apenas como um desafio, mas como uma urgência.
(3) Comentários
Concordo com você. Acho que deveria ter união entre as esquerdas. O problema é que muita picuinha está a desunindo. Muitos da esquerda sentem inveja do Lula e o acham superado. Só que esquecem que ele saiu com quase 90% de aprovação. Acho legal ter várias candidaturas da esquerda concorrendo, mas acho que num 2º turno deve se unir, independente quem for o candidato de esquerda. Todo mundo (deixo os fascistas fora, eles não têm sentimentos) está sofrendo muito com o atual governo postiço e desumano. enfim, não devemos deixar a direita ganhar essa eleição de 2018,
FRENTE AMPLA
moralismo pequeno-burguês? Entao dormir na mesma cama que os golpistas neoliberais como fizeram Lula, Dilma e o PT é compreensivel e aceitavel?