Educação meia-boca
A colunista Marcia Tiburi (Foto: Simone Marinho/ Divulgação)
Há um texto de Theodor Adorno traduzido entre nós por “Teoria da Semicultura ou Teoria da Semiformação”. O termo original é Halbbildung. Se Bildung refere-se à formação cultural, em um sentido extrapedagógico, ou seja, não dependente apenas da formação escolar, semiformação seria um modo precário de apropriar-se subjetivamente da cultura. A onipresença do espírito alienado e aquilo que Adorno chamou de consciência dissociada, a incapacidade de estabelecer nexo entre a cultura aprendida e as questões humanas, dizem respeito à sua definição.
Quando nos perguntamos como é possível que em pleno século 21, em uma época em que o acesso à informação é cada vez mais difundido, quando atingimos um estágio cultural – inclusive com a tecnologia digital – tão impressionante, as pessoas falem tantas bobagens, estamos diante do tema da semicultura. Semiculto não seria apenas a pessoa quase formada, meio formada ou formada pela metade, ou até mesmo mal formada. O que está em jogo na semiformação é a cesura cognitiva. A rachadura não apenas cognitiva entre aquilo que se aprende e aquilo que se pensa e faz. A questão está certamente nos meios de formação, nas mediações culturais inconscientes que pesam sobre nós.
Entre os nazistas, por exemplo, era comum a valorização da arte (não da arte moderna à qual Hitler denominou “degenerada”) e o desprezo pela humanidade. Eles não percebiam que a arte não era uma questão apenas estética – aliás, a arte nazista era péssima nesse sentido – mas também ética e política
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