“Mãe narcisista?” Sofrimentos narcísicos e o contemporâneo

“Mãe narcisista?” Sofrimentos narcísicos e o contemporâneo
“Medeia” (1735), de Charles Antoine Coypel (Reprodução/The Metropolitan Museum)
  Autocentramento, dificuldade de empatia, arrogância: esses são apenas alguns exemplos da extensa lista de comportamentos que dão estofo à figura da chamada “mãe narcisista”. Nas redes sociais, em revistas de ampla divulgação, em conversas informais, o adjetivo narcisista tem sido amplamente utilizado como caracterização de determinadas tipologias de personalidade. Elas remetem muitas vezes ao diagnóstico de Transtorno de Personalidade Narcísica, consolidado na psiquiatria a partir do DMS-IV (1994), que vem na esteira de uma ampla difusão dos diagnósticos psiquiátricos no contexto cultural. Ora, não é a primeira vez que assistimos ao desdobramento de expressões consagradas pela psicanálise deslocadas de seu contexto, sobretudo aquelas que visam justamente atribuir um caráter patológico às mães. Da “mãe geladeira” (expressão utilizada por volta dos anos 1950 como etiologia do autismo inspirada nos trabalhos de Léo Kanner) para a “mãe narcisista”, há pouca diferença. É interessante entrever que as categorias psiquiátricas e sua ampla difusão podem ser concebidas como sintomas no sentido freudiano, isto é, como signo de um conflito que não pode ser apreendido por completo. Nesse sentido, o uso corrente do narcisismo enquanto adjetivo para uma personalidade patológica torna evidente a importância fornecida à imagem de si no contemporâneo, mas também revela uma problemática paradoxal. Isso porque os transtornos de personalidade narcísica acabam por individualizar e circunscrever como patologia justamente aspectos centra

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