O machismo estrutural do nosso dia a dia
Fotografia de Adriana Valentin para o projeto Velada (Foto: Adriana Valentin)
Por Claudia Oliveira
Quando falamos de machismo, aliás não apenas do machismo mas também de outras frentes de combate social como o racismo e a homofobia, o que me preocupa são seus permeios estruturais.
Veja, quando uma mulher é agredida, assediada, discriminada ou algo do tipo, temos dispositivos legais para o combate – não são suficientes e efetivos, claro, mas há.
Já quando falamos do machismo estrutural que se fortalece em nosso dia a dia através da cultura do patriarcado, sob formas que são atenuadas pela religião, pelas piadas, pela suposta descontração, justificada pela “natureza biológica” masculina, o combate torna se infinitamente mais difícil.
Sou solteira e ainda não tenho filhos. Há quatro anos, quando minha mãe morreu, todos perguntaram se eu iria morar na casa dela com meus irmãos. A mesma pergunta não foi feita ao meu outro irmão que é casado.
Simples: a vida de uma mulher sem um homem e que não procriou vale menos que a de um homem casado, e isso é estrutural, quase imperceptível.
Em outra ocasião, numa reunião de uma empresa da qual fiz parte e a equipe era constituída em 70% por mulheres, meu gestor estava debatendo algumas questões com os dois únicos homens do grupo. Quando me aproximei, pois algumas abordagens também me competiam e comecei a fazer argumentações mais severas, o mesmo emitiu a seguinte fala: Claudia, vá ficar com as meninas!
O gestor em questão, uma boa pessoa e pai de uma menina, mergulhado no machismo estrutural, também é emissor de falas como: você trabalha como um homem!
Em todas as ocasiões mencionadas, me posicionei, não permitindo ser oprimida, usando meu lugar de fala para debater as questões e causar reflexão.
Ainda assim, tudo o que relatei é estrutural, emitido em diálogos e ações diariamente, até mesmo por mulheres, até mesmo por mim.
O importante é que abramos debate sobre essas falas, jogando luz e permitindo reflexões.
Penso que apenas com diálogos e reflexão poderemos um dia desconstruir o patriarcado que nos mata todos os dias!
Claudia Oliveira, 41 anos, gerente comercial em Campo Grande (MS)