Violência intrafamiliar e o papel da educação
(Arte Revista CULT)
Por Maciana de Freitas e Souza
Nos países periféricos e em especial no Brasil, a característica da forte desigualdade social faz com que o tema da educação ocupe um lugar de centralidade. Cotidianamente inúmeras crianças e adolescentes passam por violência, nem sempre os espaços em que estão são de liberdade, tolerância e acolhimento.
Em Apodi, cidade de 36 mil habitantes situada a cerca de 300 quilômetros da capital do Rio Grande do Norte, Natal, a história de algumas crianças começou a mudar a partir do Programa de Atendimento Familiar, iniciativa criada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), voltada a famílias em situação de violência intrafamiliar.
Iniciei meu trabalho enquanto assistente social, cheguei de paraquedas, assustada por causa da natural insegurança de recém-formada, e fui recebida com muito carinho por todos, em especial pelos profissionais da minha equipe. Existem momentos que nos marcam e esse foi um deles… frio na barriga: como ganhar a confiança dos pais? Será que eu vou conseguir? Como é a comunicação entre eles? E com a gente? As respostas? Cada dia a gente tinha uma diferente da outra!
O trabalho tinha como objetivo o atendimento às famílias de origem da criança e/ ou adolescente, sempre na perspectiva da restauração dos vínculos da afetividade. As ações do PAF eram integradas com demais políticas setoriais, a exemplo: assistência social, saúde, educação, justiça, buscando a superação de vulnerabilidades apresentadas e como alternativa possível ao acolhimento institucional na realidade brasileira.
A partir daquele momento, eu mal sabia o quão desafiador seria fazer parte dessa etapa da vida deles, e principalmente o quão especial seria para a minha vida. Foram dois anos repletos de explorações, cuidados, curiosidades, possibilidades, descobertas, reflexões, aprendizagens. Pensar educação é sinônimo de construção e desconstrução de reflexões. Todos têm direito de pensar a educação e todos têm direito de sentir a educação.
Com o programa, os órgãos de proteção à infância e juventude locais passaram a intervir para resgatar os direitos de meninos e meninas, buscando a superação de vulnerabilidades e a recuperação de seus vínculos familiares e comunitários. Portanto, o trabalho realizado foi de fundamental importância para fortalecer a rede de apoio social e afetivo, com ações socioeducativas e encaminhamentos para a retomada da convivência familiar. Acredito que o eterno educador de todos nós Paulo Freire resume o sentimento que nos uniu e que nos une toda a vida: “Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam”.
Maciana de Freitas e Souza, 25, é assistente social em Apodi, Rio Grande do Norte. Bacharela em Serviço Social pela UERN e pós-graduada em Saúde Pública, escreve sobre direitos sociais no site Justificando