A lógica do sensível

A lógica do sensível
Claude Lévi-Strauss é considerado o fundador da antropologia estruturalista (Foto: Michel Ravassard/UNESCO)
  Quem assina estas páginas não é um antropólogo. Talvez o convite me tenha sido feito pela curiosidade de notar como reage à obra de Lévi-Strauss alguém que, dedicando-se ao estudo da literatura, saiba que o antropólogo francês foi acusado por um de seus pares de ser pouco afeito à pesquisa de campo, de ter um certo pendor filosófico e muita imaginação. Em poucas palavras, de não caber no clichê do que se entende como cientista. Ao escrever a última frase, lembrei-me de imediato da acusação oposta: de sua parte, Deleuze declarava que Lévi-Strauss era o mais “positivista”, ou seja, o mais apegado à ciência, de sua geração. Não estou seguro se as palavras eram bem essas, mas estou certo de seu sentido. Como então conciliar os ataques feitos por Clifford Geertz e pelo filósofo francês? Eles não chegam a ser infundados, senão que expressam meias verdades. Lévi-Strauss pensava e escrevia extraordinariamente, sem em instante algum deixar de acentuar seu propósito de fazer ciência.   Não poderíamos então somar as duas meias verdades? Mas tais metades não se somam. Ou, ao fazê-lo, deparamos com um monstrengo.     Em vez, portanto, de acrescentar mais um a nosso cotidiano, procuro o caminho oposto. Esquematicamente, ele assim se formulará: as acusações que tinham Lévi-Strauss como alvo decorriam de ter sido ele o primeiro especialista da segunda metade do século 20 a combater a trilha percorrida pelos que consideram a ciência a atividade suprema, talvez mesmo a única digna, a que o

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