Leo não consegue mudar o mundo
O artista cearense Leonilson (Foto: Divulgação)
O cearense José Leonilson (1957-1993), morto precocemente aos 36 anos, é hoje um dos nomes mais celebrados da Geração 80. Os desenhos e bordados produzidos pelo artista em seus três últimos anos de vida constituem a parte de sua obra capitalizada, exibida e pensada por parcela expressiva das curadorias e análises monográficas realizadas desde então.
Na disputa narrativa em torno desse legado sobressai uma perspectiva teórica. Aquela que, com a mesma ênfase que destaca o teor autobiográfico e confessional dessa produção, atrofia seu caráter político e insiste em nos fazer compreendê-la como pura interioridade. Outra vertente teórica dessa disputa, à qual me filio, propõe uma chave interpretativa que não destitui essa produção de seu caráter político, de sua inscrição histórica e de sua inserção em um certo cânone. Mas, em se tratando de Leonilson, são tantas as verdades (ao longo do texto, realcei os títulos de obras do artista que são fundamentais para os argumentos aqui expostos).
Voltemo-nos ao artista e ao contexto no qual se inscrevia sua produção. O Brasil dos anos 1980 avançava no projeto de uma lenta, gradual e segura transição à democracia. Existia uma euforia, inclusive no mercado de arte, atrelada ao fim da ditadura e à abertura política: “ a gente era convidado para tudo, vendia trabalhos a rodo praticamente A gente ia para a Europa, e a situação também era de abertura total ”, disse Leonilson em entrevista à crítica Lisette Lagnado em 1992.
Nesse cenário, o mundo das artes visuais oscilava e
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