Em novo single, Leo Cavalcanti aborda sofrimento pessoal em meio a turbilhão político
O compositor, cantor e multi-instrumentista paulistano Leo Cavalcanti, 33 (Pati Almeida/Divulgação)
O caos do lado de dentro e do lado de fora. É disso que trata o novo single do músico paulistano Leo Cavalcanti, 33. Composta após a tragédia de Mariana (MG) e no calor dos acontecimentos que levaram ao golpe político de 2016, a música Ainda aqui sonhando aprofunda o questionamento de si como sujeito e artista que sofre com o desamor em meio ao turbilhão político e social do nosso tempo.
Com produção de Gustavo Ruiz e Guilherme Held, a faixa é também um “desabafo emocionado” diante do desafio de lidarmos com nossas próprias urgências individuais enquanto somos atravessados por questões coletivas, afirma o músico.
“Vivemos o dilema das urgências do mundo – a profunda crise política, social, econômica e ecológica – em relação às nossas urgências individuais. Tudo ao mesmo tempo agora. Precisamos salvar o mundo, precisamos salvar a nós mesmos. Essa equação que parece não fechar é algo pelo qual todos nós estamos passando de alguma maneira”, diz Cavalcanti.
O hiato de quatro anos entre seu último disco, Despertador (2014) e o novo single não é mero acaso: “Precisei me afastar um pouco porque comecei a questionar tudo”, conta. “Meu trabalho, meu jeito de me colocar no mundo, o que tenho a dizer, a quem, e porquê. O que é fazer arte, meu lugar como artista num mundo no auge da sua crise estrutural, com tanta desigualdade, exploração, racismo, machismo e ganância de elites inescrupulosas.”
Talvez por isso seu próximo disco, com previsão de estreia para 2018, venha para tratar de “temas mais densos e concretos” que seus dois primeiros trabalhos – sendo que o primeiro, Religar (2010), já retomava algumas das inquietações artísticas e existenciais do músico.
“Creio que será um disco ‘em chamas’, porque tem muito a ser dito, explorado, posto em prática. E são questões vitais, urgentes”, adianta. “Quero mais política, mais sexualidade, mais reflexão sobre a realidade em que nos encontramos.”
O novo disco deve ser gravado em Salvador, para onde o músico se mudou em 2017. A capital baiana também foi cenário para o clipe de Ainda aqui sonhando, lançada na última quinta (15), com direção de Ricardo China e Rafael Souza.
“Salvador é mais Brasil do que a maioria do Brasil; é o primeiro Brasil. Todas as nossas contradições estão bem explícitas aqui, desde a pobreza avassaladora até a beleza e a força do povo”, diz.
Mas não só. Sendo “musical por excelência”, Salvador deve influenciar também a sonoridade das novas composições. “É uma cidade regida pelos afetos e existe uma magia muito especial aqui. Estou sendo totalmente permeado por isso.”