Lançamentos – Literatura

Lançamentos – Literatura

>> Ficção estrangeira

Refrão da Fome
J.M.G. Le Clézio
Trad.: Leonardo Fróes
Cosac Naify
248 págs. – R$ 49

A exemplo do que fizera em O Africano, ao remontar a seu universo familiar, o francês Jean-Marie Gustave Le Clézio inspirou-se na trajetória de sua mãe para escrever Refrão da Fome. Dos antecedentes da Segunda Guerra à ocupação alemã em Paris, a menina Ethel sofre as agruras sociais de seu tempo. A ruína familiar aliada à miséria e à fome perfaz a trajetória da protagonista, de modo que mimetiza as ruínas de um mundo assolado pela guerra. Realidade e ficção fundem-se na escrita de Le Clézio, homem cuja identidade se dá, sobretudo, na escrita: “Sinto necessidade de estar ligado a uma identidade e, para mim, isso acontece apenas na linguagem escrita”, afirmou certa vez ao Le Monde.

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Lady Macbeth no Distrito de Mtzensk
Nikolai Leskov
Trad.: Paulo Bezerra
Editora 34
96 págs. – R$ 28

Ao contrário de seus compatriotas ilustres, Nikolai Leskov (1831-1895) não obteve o mesmo reconhecimento internacional. Acurado retratista dos costumes da sociedade russa do século 19, Leskov é tido como um mestre da narrativa curta. Em “Lady Macbeth no Distrito de Mtzensk”, novela publicada em 1865 na revista Epokha, editada por Dostoiévski, Leskov narra a trajetória de Catierina Lvovna, jovem esposa de um velho comerciante que se torna uma assassina. Fria e calculista, Catierina não mostra arrependimento em relação às suas atrocidades. Considerada a obra-prima do autor, a novela inspirou a ópera homônima de Dmitri Shostakóvitch.

Inferno
August Strindberg
Trad.: Ismael Cardim
Editora 34
232 págs. – R$ 36

Em Inferno, o escritor e dramaturgo sueco August Strindberg (1894-1912) mergulha em seu conturbado universo psíquico. Ensaio, diário e ficção fundem-se em uma narrativa que apresenta a submissão da vontade individual às forças do inconsciente. Escrito originalmente em francês, entre os anos de 1896 e 1897, o livro revela os tormentos de um indivíduo marcado pela desmedida mania de perseguição, permanente solidão e religiosidade supersticiosa. Dada a intensidade da obra, Pier Paolo Pasolini, que assina o prefácio da edição, concluiu que: “O Inferno de Strindberg não é um livro, não é vivido pelo leitor como um livro, mas sim como uma experiência”.

Festa sob as Bombas sobre a Morte
Elias Cannetti
Trad.: Markus Lasch/
Rita Rios
Estação Liberdade
R$ 46/R$ 35

Em Festa sob as Bombas e Sobre a Morte, a vida do escritor Elias Canetti (1905-1994) é vista sob prismas distintos. O primeiro traz os depoimentos do escritor acerca da década que viveu na Inglaterra. A despeito do contexto desfavorável, em plena Segunda Guerra, Canetti considerou os anos ingleses os melhores de sua vida. Os textos estão permeados por bom humor e irreverência. Em Sobre a Morte, Canetti reflete sobre esse tema tão presente em sua literatura. O livro reúne trechos extraídos de suas obras, além de breves anotações esparsas. Em uma das passagens, o autor revela o medo da morte, fruto do desconhecido: “Os mortos têm medo dos vivos. Os vivos, porém, desconhecendo o fato, temem os mortos”.

O Lobo
Joseph Smith
Trad.: Aldalgisa Campos Silva
Editora Alfaguara
136 págs – R$ 29,90

Homem e lobo possuem uma afinidade que vem de tempos imemoriais. Uma relação que tanto nos remete ao clássico literário O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse, quanto a lendas difundidas mundo afora, como aquela do fundador de Roma, Rômulo, e de seu irmão gêmeo, Remo (ambos criados por uma loba). Enveredando por esse universo, Joseph Smith busca sustento nessa mística milenar e concede aspectos humanos a um lobo solitário. Esse se vê em busca de comida em meio a um rigoroso inverno. A sina desse lobo humanizado, os desafios enfrentados por ele, seus pensamentos conflitantes e sua inevitável forma de predador, que o leva a invariavelmente matar para sobreviver, são os pontos altos do livro.

>>Ficção nacional

A Minha Alma É Irmã de Deus
Raimundo Carrero
Record
176 págs. – R$ 34,90

Em A Minha Alma É Irmã de Deus, Camila é uma jovem perdida numa vida errante e sem destino. Assim, Raimundo Carrero a coloca inserida num universo fantasioso, moldado por situações, personagens e diálogos absurdos, para falar da crise de uma geração que precisa sobreviver, mas não encontra alicerces firmes. Com uma narrativa fragmentada, o escritor pernambucano passa a ideia de que nada é muito firme, nem na história e nem mesmo no campo dos desejos. De consistente, somente a linha tênue que separa a salvação da perdição. O livro é o último de uma tetralogia que inclui também as obras Maçã Agreste, Somos Pedras que se Consomem e O Amor Não Tem Bons Sentimentos.

Miguel e os Demônios
Lourenço Mutarelli
Companhia das Letras
120 págs. – R$ 34

Em seu quinto romance, o escritor e quadrinista Loureço Mutarelli narra a vertiginosa descida aos infernos do policial Miguel. O livro nasceu de uma encomenda para o cinema, o que explica a estrutura de roteiro, permeada por diálogos enxutos e desconcertantes. Com doeses de humor negro, o romance é repleto de fatos escabrosos. A manicure Sueli, namorada do protagonista Miguel, é mãe de uma menina que rói as quinas da parede. O ex-marido de Sueli é um pedófilo que cometeu um terrível crime. Por fim, Miguel apaixona-se pela transexual Cibelle, o que acentua os conflitos vividos pelo personagem.

Paranoia
Roberto Piva e Wesley Duke Lee
IMS
208 págs. – R$ 60

Publicado originalmente em 1963, Paranoia revelou o ímpeto transgressivo da poesia de Roberto Piva. O espírito contestador e o individualismo anárquico presentes nos 19 poemas de Piva e nas fotografias do artista plástico Wesley Duke Lee confrontaram a vanguarda literária vigente e incomodaram os críticos mais conservadores. Para Davi Arrigucci Jr., autor do prefácio desta edição: “O que primeiro chama atenção na poesia de Roberto Piva (…) é seu ímpeto para a provocação. Com efeito, o poeta entregava ao delírio sistemático a condução do lirismo, fazendo de seu comportamento desregrado também o modo de ser de sua linguagem”.

Contos de Arthur Azevedo
Loyola e Puc-Rio
Org.: Mauro Rosso
280 págs. – R$ 42

Um dos expoentes da comédia de costumes no Brasil, Arthur Azevedo (1855-1908) não negava que sua escrita estava longe da elite verborrágica e afirmava que preferia, em vez do glamour dos salões, atingir “a cidade inteira”. Um pouco desse seu ar cosmopolita e abrangente está reunido em Contos de Arthur Azevedo: Os ‘Efêmeros’ e Inéditos. Nele, encontramos os famosos Contos Efêmeros, publicados em 1897, além de textos impressos em periódicos da época e contos inéditos do escritor maranhense. A publicação traz ainda análises que explicam e contextualizam Azevedo, “um reformista em franca e deliberada contraposição à escrita beletrista”, conforme aponta Mauro Rosso, organizador da obra.

A Guerra Está em Nós
Marques Rebelo
José Olympio
562 págs. – R$ 54

Publicado originalmente em 1968, A Guerra Está em Nós, de Marques Rebelo, relata a vida no Rio de Janeiro durante a Segunda Guerra Mundial. Distante da zona de combate, o escritor nos mostra, numa prosa ligeira, uma cidade efervescente e cheia de especulação em relação aos desdobramentos do conflito. Nesse ambiente, uma informação que surge é logo comentada nos botecos, livrarias, praças e cafés, tornando-se matéria-prima para o autor exibir as diversas figuras do universo citadino. Carioca, Rebelo encontra-se no cerne de um movimento romanesco que instaurou a crônica urbana brasileira posterior a Machado de Assis e Lima Barreto.

>> Crítica Literária

O Romance – vol. 1 – A Cultura do Romance
Org.: Franco Moretti
Trad.: Denise Bottmann
Cosac Naify
1.120 págs. – R$ 150

A coleção O Romance é um ambicioso estudo desenvolvido e organizado pelo professor e crítico literário Franco Moretti acerca desse gênero tão importante para a história da literatura. Para tal, Moretti contou com a participação de 178 colaboradores, entre renomados escritores e críticos literários, tais como o crítico norte-americano Fredric Jameson e o romancista italiano Umberto Eco, além dos brasileiros Luiz Costa Lima e Roberto Schwarz. A Cultura do Romance, primeiro dos cinco volumes da coleção, chega ao mercado brasileiro com tradução de Denise Bottmann. Dividido em quatro partes, o livro reúne ensaios sobre a história do gênero e seu lugar no mundo contemporâneo.

Euclidiana – Ensaios sobre Euclides da Cunha
Walnice Nogueira Galvão
Companhia das Letras
328 págs. – R$ 52

Autoridade nos estudos euclidianos, Walnice Nogueira Galvão analisa em Euclidiana o percurso literário e biográfico do autor de Os Sertões. As influências de Castro Alves, Victor Hugo e da Bíblia; a temática do sertão – presente na vida do autor desde a adolescência – e a conturbada biografia estão entre os temas contemplados nos ensaios. Dadas as particularidades do percurso de Euclides, Walnice aponta que, para estudá-lo, não basta ater-se à sua obra literária: “Editar Euclides da Cunha, ao que parece, não se restringe a Os Sertões, nem apenas a sua obra; e dadas as características peculiares de sua trajetória, terminaria por envolver também sua própria vida e a vida de outras pessoas – sem falar a minha”, assinala no prefácio da edição.

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