O mosaico de metáforas de José Lezama Lima
O poeta, ensaísta e romancista cubano Lezama Lima (Foto: La Primera Palabra)
Para o poeta cubano José Lezama Lima, a História é um vertiginoso mosaico de metáforas. Entre a substância do real e o ato de nomeação, perpassa a tênue linha da poiesis: apreensão do inapreensível, redução possível do irredutível, miragem do verbo fundador. A poesia "é o único fato ou categoria da sensibilidade, onde não é possível a antítese", consagração da ruptura radical do "meio-termo" (entre-deux) de Pascal, entre o nada e o infinito, a que estamos eternamente condenados. E ao poeta cabe a função de "guardião do inexistente substantivo". Lezama recupera a provocativa noção de Pascal sobre a impossibilidade humana de compreender o mistério de sua origem e o infinito que a circunda para entrever aí "a região da poesia".
A trama irredutível de imagens faz da cultura um cenário barroco, multiforme, universo simbólico "superabundante", termo muito utilizado pelo poeta. Na tentativa de estabelecer um "sistema poético do mundo", Lezama mobiliza um vasto repertório: literatura, filosofia, artes plásticas, religião, música e mitologia. Desse entrecruzamento polissêmico, no qual a analogia substitui toda a ordem de causalidades, emergem os sentidos da imago, fulgurações que o poeta capta em estado de quase pureza e traduz em linguagem. O tempo todo, Lezama nos conduz ao momento de suspensão e incerteza, de encantamento e perplexidade, que as imagens instauram. Da paixão dos santos à narrativa mitológica, do texto bíblico à filosofia oriental, de Shakespeare a Hegel, de Aristóteles a Dostoiévski, o poeta recupera os
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