Crítica e historiador falam sobre os ganhadores do Jabuti
Em sua 53ª edição, o Prêmio Jabuti 2011 anunciou nesta segunda-feira (17) os ganhadores de suas 29 categorias. As obras dos escritores José Castello e Ferreira Gullar foram contempladas na categoria Romance e Poesia, respectivamente – o primeiro pelo livro Ribamar (Bertrand Brasil), sobre seu pai, escrito a partir de uma canção composta pelo irmão; o segundo, por Em Alguma Parte Alguma (José Olympio), com 59 poemas inéditos.
Além disso, Desgracida (Record), livro de microcontos e cartas do curitibano Dalton Trevisan, foi o escolhido em Contos e Crônicas. Em Reportagem, quem levou o título foi Laurentino Gomes, pela obra 1822 (Nova Fronteira), que estuda o processo que levou à declaração de independência no Brasil.
Os dois grandes prêmios, de Livro do Ano de Ficção e Livro do Ano de Não Ficção, serão anunciads em cerimônia no dia 30 de novembro, em São Paulo.
Para avaliar os resultados do prêmio, a CULT ouviu Viviana Bosi, escritora e professora da USP, e Jean Marcel Carvalho França, historiador e professor da UNESP.
Viviana Bosi
Sobre Em Alguma Parte Alguma, de Ferreira Gullar: “Foi um livro que li com muita atenção e achei o resultado bastante justo, porque nele Ferreira Gullar amadurece aspectos já presentes em seu trabalho, como a fusão entre sujeito e coisa, como em ‘Figuras Fundas’, e que já se via em sua teoria do não-objeto, a questão do objeto interior. Gostei também de alguns dos indicados, como Em Trânsito (Cia. das letras), de Alberto Martins”. Sobre Desgracida, de Dalton Trevisan: “Não li o livro, mas tive contato com alguns trechos. Acho que, assim como Gullar, Trevisan está com estilo mais concentrado, intenso. Um estilo tardio, depurado, que já se reconhece”.
Jean Marcel Carvalho França
Sobre 1822, de Laurentino Gomes: “Ele sabe escrever bem. Parece óbvio dizer isso, mas não é óbvio no meio historiográfico. Ele não é historiador, ganhou o Jabuti pela narrativa ensaística. Não é um trabalho do nível do Eduardo Bueno, também – ele faz piadas e chistes, e isso é grosseiro. E o Jabuti também não é nenhum prêmio incontornável da literatura brasileira, não é?” “Laurentino respeita a dinâmica narrativa histórica e consultou historiadores consagrados, o que dá um caráter sério ao livro. Ele coloca o historiador ali por tabela. Aliás, tenho que agradecê-lo, pois vendeu muitos livros meus (risos). Mas ele comete o maior pecado para nós, historiadores, que é o anacronismo. Por exemplo, quando escreve coisas como “fulano era histérico”, isso é incomodativo.” “Contudo, não gosto de reclamar, acho que não é necessário ficar traumatizado, não há nenhum pecado. Os historiadores costumam – ou costumamos, me incluindo – dizer que ele ocupa um território que achamos que é nosso. Mas a popularização é bastante positiva. Ele põe a História na pauta do dia”.