Introdução
Um avarento e sua reserva de ouro (1799), gravura de J. Balston (Wellcome Collection)
Quem nunca usou expressões como pão-duro, mão de vaca, muquirana, unha de fome, mesquinho ou fominha para se referir a uma pessoa que tem dificuldade em partilhar, alguém que, tendo muito, não se desfaz do mínimo para ajudar outrem, alguém incapaz de comemorar com o próximo seus bons momentos, suas premiações, seus enriquecimentos, suas vitórias, seus ganhos e lucros? A falta de partilha como prática de vida, assim como a falta de generosidade e de solidariedade, mostra que não há abertura ao outro por parte de um indivíduo particular. Se generosidade e solidariedade são formas éticas e políticas da abertura ao outro, sendo também formas do que chamamos de amor (Eros, Philia e ágape, amor sensual, amor de amizade e amor ao mundo, nas antigas definições gregas), podemos dizer que, ao avarento, falta amor. Se o amor é abertura ao outro, o ódio corresponde a um fechamento em relação a esse outro, que desaparece ou que é reduzido a objeto, a um meio para se chegar ao fim maior que, na sociedade capitalista, é o lucro. O lucro exige exploração do outro e, no fundo, muita solidão.
De fato, indivíduos são parte da sociedade expressando aspectos seus. O particular expressa a verdade do universal por interiorização dos imperativos presentes no todo em que ele se vê envolvido. Assim é que a incapacidade para partilhar, para doar ou dividir que surge como característica de alguém revela a verdade de um sistema inteiro no qual essa inaptidão se torna regra. Se a essa característica damos o nome de avareza quando se trata de falar de
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