Instituto Moreira Salles quer levar dinamismo das ruas para novo centro cultural

Instituto Moreira Salles quer levar dinamismo das ruas para novo centro cultural
Interior do novo centro cultural do Instituto Moreira Salles em São Paulo; espaço será inaugurado na próxima terça (19) (Divulgação)

 

 

A luz do sol ilumina a calçada de pedras portuguesas, com padrões em preto e branco, entre a Consolação e a Bela Cintra. A descrição, que poderia ser das ruas da cidade, serve também para definir o interior do novo prédio do Instituto Moreira Salles (IMS), centro cultural de origem mineira. Na próxima quarta (20), o IMS inaugura um novo centro cultural na capital paulista: um edifício envidraçado de nove andares que busca, na arquitetura e na programação, reproduzir o movimento e a diversidade da avenida Paulista, onde foi construído.

Nesta quarta (13), o superintendente do IMS, Flávio Pinheiro, e o curador de programação do instituto, Lorenzo Mammi, falaram à imprensa sobre a nova sede (que, sozinha, custou R$ 150 milhões e levou quatro anos para ficar pronta), substituta da antiga galeria na rua Piauí, em Higienópolis, que funcionou entre 1996 e 2016.

Na coletiva, os dois também revelaram o objetivo de englobar a atmosfera urbana nas exposições e nas atividades do instituto em São Paulo. Nas palavras de Mammi, “o prédio é transparente, sem portas ou portões, justamente para integrar-se à cidade e convidar as pessoas a entrar”. O piso, feito de pedras portuguesas, é inspirado na calçada do Conjunto Nacional, quase em frente ao instituto.

Além da pretensa integração física à rua, a entrada ao IMS e o acesso a todas as suas exposições e espaços, como uma biblioteca focada em fotografia (especialidade do instituto), serão livres e gratuitas. Apenas algumas atividades, como cursos de fotografia, shows e projeções de filmes, serão pagas. “A Paulista é um dos lugares da cidade em que mais circulam pessoas. É uma das maiores efervescências culturais do país. Queremos reproduzir esse clima aqui dentro”, resume Pinheiro.

“Copiar” as ruas também é uma estratégia para combater a concorrência cultural na avenida Paulista, segundo os porta-vozes, já que ali se encontram espaços como o Itaú Cultural, o Masp e a Casa das Rosas.

Obra em exposição na mostra Corpo a Corpo (Foto Helô D'ângelo)
Obra em exposição na mostra “Corpo a Corpo”,  em cartaz no novo IMS em SP (Foto Helô D’Angelo)

As próprias mostras devem tratar de temas relacionados ao espaço urbano. Clássico da fotografia do século 20, “The Americans”, de Robert Frank, inaugura o espaço celebrando o fotógrafo norte-americano, importante nome da fotografia de rua.

Já “Câmera aberta”, de Michael Wesely, apresenta fotografias em longa exposição da Avenida Paulista, que captam as mudanças sofridas principalmente pelo próprio prédio do IMS no período de três anos. Na mesma linha, o instituto também vai apresentar “Corpo a corpo”, mostra que reúne fotografias e vídeos sobre racismo, preconceito e violência, com destaque para o material do coletivo Mídia Ninja.

“Se o Mídia Ninja fizer um vídeo ao vivo durante a exposição, ele será automaticamente transmitido na mostra. Vamos trazer aquilo que está na rua para dentro das paredes da galeria, como uma forma de arte viva”, disse Thyago Nogueira, curador da mostra.

O Instituto Moreira Salles nasceu em Poços de Caldas, no sudeste de Minas Gerais, em 1992, com o objetivo de promover a cultura no Brasil. Sem fins lucrativos, sobrevive de uma dotação, constituída pelo Unibanco e pela própria família Moreira Salles – sem auxílio de leis de incentivo à cultura, como a Rouanet. 

Hoje, o IMS conta com um dos maiores acervos de fotografia do Brasil, composto por mais de 2 milhões de imagens. Abriga, também, 53 mil discos de grandes nomes da música brasileira, como Pixinguinha e Chiquinha Gonzaga, e 160 mil livros e artigos de biblioteca e iconografia – assim como cartas e documentos pessoais de autores brasileiros como Ana Cristina Cesar, Erico Verissimo, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz e Lygia Fagundes Telles.

Texto atualizado em 14 de setembro, às 11h57.

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