A inquietante câmara clara
Robert David / divulgação Imagem da biografia Roland Barthes, de Louis-Jean Calvet, Flammarion, 1990
A câmara clara é um livro inquietante. Numa primeira leitura, investida ou não de um desejo de encontrar aí uma teoria aplicável da fotografia, sempre decepciona, diria até mesmo que revolta, sobretudo, àqueles leitores ávidos por uma metodologia reconfortante. Não pela escritura, suntuosamente arquitetada e plena de lances geniais, mas pelo “labirinto romanesco” no qual toda uma reflexão sobre questões caras do tempo, da memória, da morte, do luto, da imagem, é dado a ver, tendo como pano de fundo a fotografia. Um livro cuja escritura é bastante contemporânea e faz cintilar um Barthes pensador no presente.
Em todo caso, é preciso insistir. Numa segunda leitura, já consciente da trama do texto, o leitor então pode escolher: ou se ater às sutilezas do texto e ir cuidadosamente rastreando as fulgurantes observações sobre fotografia, anotadas euforicamente por alguém que pretendia saber a todo custo o que ela era “em si mesma”, ou se entregar “ao despertar intratável da realidade” e adentrar as profundezas melancólicas do luto e da morte.
Melhor preparado para enfrentar esse “labirinto” não quer, forçosamente, dizer que sua travessia será mais tranquila. Nota sobre fotografia, subtítulo da obra, sempre desconcerta. Talvez esse desconcerto esteja relacionado às duas contundentes razões.
Desconcerta porque essa derradeira obra barthesiana em vida se insere e desenvolve o projeto já em processo em obras ulteriores como: Roland Barthes por Roland Barthes e Fragmentos de um discurso amoroso, que é de fazer nascer a teoria
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