Inerente ou ausente, respeito sempre
Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de agosto de 2021 é “respeito”
O respeito no âmbito social tem origens incertas e deve estar associado ao altruísmo inerente à sobrevivência e razão humanas, uma vez que sabemos dele, e parece ser o oxigênio da vida social, imprescindível que é. Tal como outras vitais substâncias, dele sentimos a importância na ausência.
Pula uma chance aqui, outra ali, e pela estatística somos atingidos por uma delas e uma centelha de esclarecimento, ainda que efêmera, acontece. Esta é sobre – ou a respeito – do respeito.
A etimologia prescreve que respeito pode ter vindo da ação de olhar para trás, segundo o Houaiss, sempre ele. Assim, lançar a atenção ao passado é estudar história, compreendê-la para não repetir seus erros, dirão os utopistas. Conhecer é a base do respeito, sabendo-se o outro e a outra coisa, saberemos respeitá-los. Daí em tempos correntes haver, por parte de alguns, a importância da supressão da coisa vivida para a manutenção de poderes, podres e pátrios.
As pequenas conquistas sociais de um passado recente fizeram os invisíveis sociais respeitarem os ocupantes de classes superiores. No melhor estilo freiriano, os oprimidos não vivaram opressores. Mas a pequena inserção social daqueles levou a uma injustificada indignação dos ocupantes do pequeno poder que se viram ameaçados. Encontraram eco nos extremados de hoje e, de volta a ditames anacrônicos, subjugam desrespeitosamente aqueles que deveriam ser a parte principal do todo.
O respeito que agora reivindica-se não é mais passível de conquista, ao que tudo indica. Quase se apela por ele, de forma indigna. Seguiremos realistas para ver o quanto de presente será transformado em passado a ser superado no futuro próximo.
Adilson Roberto Gonçalves, 54, meio vacinado, é pesquisador da
Unesp, escrevinhador, membro do Instituto Histórico, Geográfico e
Genealógico de Campinas, da Academia de Letras de Lorena e da
Academia Campineira de Letras e Artes