In dubio pro animale
(Ilustração: @photo.jaksys)
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Cedo fui avisado:
“Arrume-se e embale tudo. Logo, iremos viajar”
Uma viagem curta e rápida, extremamente solitária
Subo a ladeira, igual à do Zeca Pagodinho
Desejos de boa sorte não me deixam isolado
Pago nu, agacho duas, três…
Camisa para dentro da calça e algema uma vez
Rumo à sardinha, caminho até que tranquilamente
Epa! Pernas livres? Assim não vai com a gente
“Stevie, pega o grampo de pernas”. Algemas novamente
Tudo bem, agora vai dar certo
Algo me diz que posso ganhar esse inquérito
Nada de fala, muito se escuta
Diversos palpites, zero ajuda
Todo amarrado, me sinto em um caixão
Preocupado agora em não morrer no caminho
Engata a primeira e após a curva senta o pau
A carga viva vai atrás qual animal
Cheiro de óleo diesel, poluição e pastilha de freio
Na diversidade de buzinas, destaca-se a do motoqueiro
Sirenes para todos os lados, aumenta a turbulência
Bem-vindo à capital, terra da garoa, da violência e da injustiça social
O trim-trim das cromadas, que insistem em se arrastar
“Pela faixa amarela, Joe, só pare quando eu der o sinal”
Após uma escala na jaula imunda
De havaianas em pleno fórum na Barra Funda
Sou posto em frente à magistrada
Com olhar compenetrado em sua tela e ouvido calibrado
As unhas vermelhas teclam
Tudo para anunciar que estou pronunciado
Por Lucas Lezo