Iê-iê-iê, alegria, alegoria

Iê-iê-iê, alegria, alegoria
  Não resta a menor dúvida de que o século 20 será lembrado como o mais atípico da história. E por dois motivos extremados. Ele foi o mais criativo, nele tudo se inventou, nele conhecemos mais transformações culturais, mais “ismos”, do que em dezenas de séculos juntos. Mas foi nele também que ocorreram os mais monstruosos genocídios, sobretudo nas duas grandes guerras – 1914/18, 1939/45. Mas parece que ao se ver livre dessas duas catástrofes, o ser humano resolveu comemorar com muita alegria, mudando hábitos, liberando costumes e, sobretudo, dançando muito. Nos roaring twen­ties, a internacionalização do jazz fazia o mundo vibrar e liberar energia por todos os poros e, no segundo pós-guerra, a guitarra em riste foi a arma do agito, sendo que a munição foi o rock. Mas, em conseqüência da tecno­logia, da explosão dos meios de comunicação que colocou mais informações “no ar”, a segunda revolução comportamental do século foi mais diversificada. Se Elvis Presley, na segunda metade da década de 1950, se sacudia mais que uma batedeira Walita, na década posterior os quatro cabeludos de Liverpool assumiram a liderança nas paixões juvenis, conduzindo as transformações para um universo de idéias bem mais amplo e provocador. O primeiro registro dos Beatles, em abril de 61 num concerto ao vivo em Hamburgo, revelava que eles nada mais pretendiam que ser um cover do rei do rock americano. Em pouco tempo, porém, a partir do lançamento de "Love me do", primeiro single (pela Parlo­phone), em outubro de 1962, o talento criador do

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