Oficina Literária | how to be a soft racist
(Jean-Baptiste Debret/Domínio Público)
misturar, forçadamente o preto&branco:
a cor deve ser cinza
a cor deve ser de sangue, esperma&lágrima
mais que isso: a cor deve ser
de mitocôndria afroindígena
dizer aos pretos e aos cinzas que
o melhor é branco
o cinza é de mesa, o preto é de colheita
todos pisam o mesmo chão:
há os que têm corrente, há os que não
lembrar-se de separar: casa é norte; quintal é sul
nos neotrópicos
faz-se sorriso e silêncio:
só se ouve o cheiro das balas
se setentrional
a separação é sanguínea
se tropical
a segregação é mental
espalhar um mito de democracia racial
lembrar-se sempre de dizer: eres da casa
na casa construir o fundo da casa
no fundo da casa
construir o fundo do mundo
seja o último país do Ocidente a
abolir a escravidão
por questões práticas:
quem já tem terra fica com a terra
quem já trabalha na terra fica com o trabalho
na terra
quem já tem dinheiro fica com o dinheiro
quem já tem fome fica com a fome
faça com que seja sutil
imperceptível
e por isso duplamente violenta
faça com que duvidem de tudo:
do anterior
do seguinte
do espelho
das correntes
do sangue
dos cuspes
dos olhares tortos
dos chutes
Faça com que odeiem tudo:
o espelho
o Outro
a Si.
Faça com que olvidem tudo:
o que passou
o que não passou
o espelho
de Si.
Maria Emanuelle Cardoso, 23 anos, é bióloga. O poema “how to be a soft racist” surgiu a partir da fala de um professor universitário que disse que o racismo no Brasil seria “mais leve”. O mesmo professor ficou receoso de dizer que a autora era neg
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