Grito metálico
O poeta Donizete Galvão (Arte Andreia Freire/Divulgação)
A poesia de Donizete Galvão está de volta, num livro póstumo inédito – O antipássaro. Não espere, leitor, algum canto altissonante, ou um “poema-alado”. Prepare-se para versos espremidos nos vãos de uma cidade-artefato, natureza devorada pela técnica, onde surgem cones, caçambas e pássaros-gruas sobrevoam a paisagem. Até a poesia está em suspeição, incapaz que é de abrigar os homens “arrebenta-pedra”, “que vestem macacões/ cor de laranja/ e andam pela/ rua correndo/ atrás do caminhão”, os que “saem de casa/ pela madrugada/ nas carrocerias e trazem a pele lapeada.” “Onde estão?” – pergunta o poeta em “Invisíveis”. “Que poema habitam”?
O antipássaro é o sétimo título de poesia deste mineiro nascido em Borda da Mata, que fez a vida em São Paulo, até nos deixar numa madrugada quente, de janeiro de 2014, com apenas 58 anos. Desde então, é aguardada a publicação do inédito que deixara inacabado em seu computador.
Editado pela Martelo, de Goiânia, o volume foi organizado por dois poetas amigos e conhecedores da obra: Tarso de Melo e Paulo Ferraz deram o ponto final, decidindo a ordem de entrada dos poemas. Para rastrear e indexar as diferentes versões que haviam sido transportadas de um computador para outro desde 2002, a dupla contou com a ajuda do poeta Carlos Machado.
Numa troca de e-mails, de julho de 2013, duas decisões acerca do novo livro eram anunciadas pelo autor: o título O antipássaro, referência direta a Orides Fontela, a “poeta-irmã”, como bem aponta o professor e crítico
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