FILOSOFIA POP – Manifesto em 16 teses
1 – Filosofia POP é a qualificação do pensamento enquanto ele se aventura nos conteúdos rejeitados de seu tempo.
2 – Filosofia POP é um nome provocativo diante da análise fundamentalista das obras de filósofos a que muitos tentam reduzir a filosofia confundida com o trabalho da investigação acadêmica que toca a burocracia enquanto sustenta a repetição.
3 – Filosofia POP é trabalho vivo com textos novos e antigos, com as falas, os filmes, a arte, os rótulos, a pichação e também o rastro desenhado por insetos, a merda dos cães nas ruas, o sangue dos agredidos, a lágrima das crianças abandonadas.
4 – Tendo como princípio que conteúdos rejeitados projetam luz sobre a experiência de uma época, a tarefa da Filosofia POP implica o trânsito entre afetos e representações tratadas como lixo, resto, dejeto: S’Obra.
5 – Filosofia POP é a pesquisa com as obras, mas o que ela deseja mesmo é entender a vida que jaz na S’Obra.
6 – Filosofia POP é pensamento que se faz atravessando a nado o rio de dejetos simbólicos e concretos que atravessa nossas cidades, nossas visões de mundo, nosso jeito de agir.
6 – Filosofia POP não é só a pesquisa, é também o pensamento na sua pele provocativa fugindo até a morte de quem quer taxidermizá-la. Kant nu na banheira com Lady Gaga, Nietzsche e o Papa, Wittgenstein e Raul Seixas.
7 – Filosofia Pop é uma forma de antifilosofia.
8 – Filosofia POP é PiXação na sua forma evidente de pensamento reflexivo e o pensamento reflexivo na sua forma evidente de PiXação.
9 – Sócrates foi um filósofo pop. Nietzsche foi um filósofo pop. Todos os filósofos de que ouvimos falar são generosos fantasmas pops e podem nos ensinar alguma coisa enquanto nos ajudam a sair do senso comum rumo a um pensamento crítico que possa se tornar emancipatório.
10 – Filosofia POP é Filosofia Suja ou o pensamento contra a assepsia científica que faz dos conceitos pinças e tubos de ensaio e da vida um cadáver abandonado ao formol do sistema.
11 – Filosofia POP é o amor às potências da crítica que não inclui o poder, não deseja a autoconservação e sonha com a liberdade das ideias. Roubo geral como partilha contra o copyright conceitual vigente.
12 – Filosofia POP é o amor canibal à todas as formas de saber e o corpo vivo do pensamento dado em alimento à fome ignorante do mundo.
13 – Filosofia POP como cultivo da árvore do conhecimento do além do bem e do mal. A fruta perigosa que atingindo a imaginação faz sonhar com um outro mundo possível.
14 – Filosofia POP como qualificação do pensamento pela aventura contra a repetição do mais do mesmo.
15 – Filosofia POP ou Filosofia Negativa da Indústria Cultural a partir de seus frutos apodrecidos. Abrimos os brinquedinhos que recebemos do sistema com a mesma curiosidade que tínhamos quando éramos crianças e felizes.
16 – Filosofia POP ou Filosofia PUNK . Pela reinvenção do mundo enquanto rimos de suas regras e metodologias, pois o que queremos é fazer do nosso jeito.
(10) Comentários
Deixe o seu comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Filosofia POP ou Filosofia PUNK ou… Filosofia FUNK !!!
CCAAAAAARRAAAAAAALLLHHHOOOOOOOOOOOO! Que massa! O 10 foi escrito pra mim, precisava mesmo ler isso tudo!
Isto é rock, é pop, é revolução! Demais! Li num trago. É reconfortante que alguém sério, uma professora universitária, que tem autoridade para dizer EU ACHO, manifeste-se assim. Bravíssimo!
O resto, o lixo, a s’obra. Penso na categoria das Obras que se escondem por trás das fachadas. Bom. Aulas que fazem pensar.
assim entendo as 16 teses: o pop que insurge daí é anti-populista. uma insurgência popularista. insurgência por ser um levante contra a monocultura de letrados. popularista por nascer do conhecimento da sabedoria de um povo. sabedoria sem autores e autoras sem ser senso-comum. como o pensamento de toda cultura oral cujos heróis e heroínas são deglutidos voluntariamente pelo coletivo. no mínimo, que já é o máximo, somos filhos e filhas da oralidade das mais diversas etnias indígenas desta terra que brutalmente chamam de brasil; de etnias africanas tragas à força para cá e imigrantes anti-colonialistas. pois de resto, há somente conhecimento oficial-colonial. o punk que insurge daí é “faça vc mesma”. uma insurgência da pichação. esta grandiosa arte que, do mesmo modo que duchamp, despreza a galeria de arte. que também não dá a mínima a um futuro retumbante, pois o que se deseja para o futuro se realiza agora. que usa botoque ao invés de piercing – pois tem um importância fundamental para a oratória e para os cânticos. que usa jaqueta de couro vindas do cangaço e não de motoqueiros – pois é preciso se proteger dos espinhos policialescos da cidade. e cabelos estilizados como fazem a população hereros angola – pois é preciso se reconhecer como novos e novas quilombolas em micros quilombos que surgem a cada instante para se escapar dos jagunços e latifundiários da filosofia. salve marcia! teses inspiradoras!
Eu bem que falei há uns anos atrás que um dia Marcia Tiburi seria deleuzeana.
Filosofia POP… eu fui!
Desde pequeno nós comemos lixo comercial e industrial, mas agora chegou nos vez: vamos cuspir de volta o lixo em cima de vcs.
Simplesmente fantástico!
Vi esses dias o documentário sobre o Raulzito e ele disse que depois de tr feito filosofia, mas ao descobrir que no Brasil não se lia, resolveu em definitivo fazer música. A gente precisa investigar de quais/quantas formas se faz filosofia. Interromper esse processo unilateral de reconhecimento da mãe Europa,…, aqui tem coisa boa, densa, humorada e não é só matéria prima!
Adorei o manifesto! Ou não-manifesto… Sei lá. Pq o que se quer na verdade é poder respirar, isso é básico para viver. De repente, é tomar a Casa,…, não a casa que já inevitável/indistintamente ocuparam com seus fluidos,…., mas poder renomear, resignificar, olhando pro mundo e não somente pro ego.
É bom te ter não apenas percebendo isso – muitos o fazem -, e ainda querer provocar o colapso! Hehe
Marcia Tiburi,vi tuas palestras sobre felicidade no youtube e fiquei afim de ver mais (gostaria mt de comparecer ,mas n sei se tu tem vindo pra Porto Alegre dar palestras) e pensei em recomendar um filme q gira em torno do tema,é meio desconhecido mas é um otimo filme ,se chama treze visões
Independente de que? Relativismo dos relativismos!