“Estamos longe de saber lidar com a inteligência artificial”
A professora Lucia Santaella (Foto: Leonor Calasans/IEA-USP)
Para a estudiosa de ciências da comunicação Lucia Santaella, o avanço das tecnologias de inteligência artificial (IA) amplia a simbiose entre a realidade humana e a realidade das máquinas. Autora de mais de 50 livros e professora titular da PUC-SP, Santaella conversou com a Cult sobre os desafios postos pela era da IA – entre eles, a onipresença dos algoritmos, a hiperconectividade e a emergência do modelo de linguagem do ChatGPT, que pode demolir os sistemas tradicionais de avaliação educacional
O diagnóstico já parece consensual: vivemos a era da inteligência artificial (IA). Estamos sabendo lidar com ela?
Estamos muito longe de saber lidar com a IA, ou melhor, com os efeitos que ela está provocando na vida humana. Precisamos, com urgência, aprender a conviver com a IA. Há várias razões que dificultam essa tarefa. A primeira delas diz respeito ao modo como o humano tende a se ver como um ser em estado biológico puro, apartado da tecnologia, como se ela fosse uma estranha e forasteira, separada de nós. É claro que há tecnologias duras, pesadas e até mesmo brutas que impedem quaisquer projeções identificatórias. A IA, entretanto, não tem nenhum parentesco com elas.
A IA pertence a outra família de tecnologias, as tecnologias da inteligência. Isso começou com a câmera fotográfica, o gramofone e a máquina de escrever, que compõem justamente o título do livro de Friedrich Kittler (Gramofone, filme, typewriter, Editora UFMG/EdUERJ, 2019), no qual o autor aponta as profundas transformações que estavam por vir no universo da ima
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