Essa linda desconhecida

Essa linda desconhecida
(Arte Revista CULT)

 

Empatia, essa linda desconhecida. As pessoas enchem a boca, e o imaginário, para falar de empatia, mas no dia a dia continuam frias e insensíveis.

Porque é tão difícil sermos empáticos? Porque é tão desconfortável mexer com a ferida alheia?

Poderíamos discorrer por horas sobre a insensatez humana e a frieza das relações competitivas contemporâneas, mas quero abordar outro ponto. Quero refletir sobre um ponto mais humano e, portanto, falhos, imperfeitos e em constante crescimento.

Na prática diária como psicóloga, vejo frequentemente a dificuldade dos seres humanos em viver e sentir. Sentir as próprias emoções pode ser tarefa complexa e desagradável para boa parte da população, muitas estratégias são desenvolvidas no afã da “auto tapeação”, na ânsia insaciável da distração.

Muitos usam drogas (como o álcool, por exemplo) com esse propósito, outros comem compulsivamente; existem os que preferem dormir em excesso e os que se zumbificam frente a televisões e outras telas, entre milhares de estratégias para afastar os desconfortos que acompanham as emoções, sensações físicas e pensamentos decorrentes do fato de estarmos vivos e vivermos.

Se não conseguimos nem ao menos lidar com a nossa carga emocional, com nossas próprias dores, como poderemos conseguir lidar com as dores e dificuldades dos outros? Como ver a vida pelos olhos alheios e sentir seus sentimentos se não conseguimos nem ao menos sentir e cuidar dos nossos próprios desconfortos?

Percebo que as pessoas não estão mais insensíveis, apenas mais explícitas em suas insensibilidades. A estratégia adotada para não sofrer é não sentir, é afastar-se de tudo e todos que lhe façam sentir mal ou que causem desconforto. O problema desta estratégia é que ela funciona, e funciona bem até demais. Funciona tão bem que a pessoa passa a não se perceber, não ter autoconsciência do que sente e por que sente, o que esse sentimento tem a ver com a história pessoal e porque dói naquele ponto específico,e não em outro, ou seja, perde os significados da experiência pela qual passa. E com o tempo fica cada vez mais auto alienada.

Uma pessoa auto alienada consegue se conectar profundamente com os sentimentos do outro? Consegue colocar em prática um exercício complexo de flexibilidade cognitiva e emocional que é experimentar a vivência do outro pelo paradigma do outro? Dificilmente.

Quando as pessoas se afastam das próprias experiências internas (emoções, pensamentos e sensações) elas deixam de desenvolver habilidades fundamentais da inteligência emocional que são pré-requisitos para vivenciar a empatia. Se quisermos ser mais empáticos, precisamos experimentar primeiro conosco, pois apenas quem sabe lidar com a própria dor e as próprias feridas saberá se aproximar do outro com gentileza, calçar seus sapatos e usar seus “óculos de ver a vida” respeitosamente e experimentar as dores e os prazeres decorrentes do elo profundo de conexão humana chamado ‘empatia’.

Caroline Andreia Engelmann, 26, psicóloga Clínica e terapeuta em Foz do Iguaçu, Paraná

 

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