Escuta solidária
(Ilustração: Fernando Saraiva/Revista Cult)
Onde mora o perigo, lá também cresce o que salva
Friedrich Hölderlin
No século 20, repetimos inúmeras vezes esse verso de Hölderlin sem saber como ele seria atual no século 21. Indivíduos, grupos, sociedades estão sendo atravessados ininterruptamente por processos individuantes que dissolvem e transfiguram o rosto do mundo. O Estado-nação também se transforma em Estados plurinacionais – a Bolívia já conquistou e o Chile ensaia essa possibilidade –, e o conceito-experiência de revolução que vivemos desde a Revolução Francesa já não nos serve. Ele sofre uma nova mutação, torna-se micropolítica, e não só no Brasil, mas na América Latina como um todo.
Esses atravessamentos individuantes voltam a vestir antigas roupagens – poderia ser diferente? – e são ditos identitários. O que está na base, todavia, é genético, é energia incessante, e nos perguntamos todas as manhãs, fazendo coro a Marvin Gaye: “What’s going on?”.
O fascismo não é somente a forma atual do neoliberalismo; é também uma reação a essas forças diferenciantes que nos arrastam à luta antipatriarcal, feminista, LGBTQIAPN+, decolonial, preta, quilombola, indígena. Faltava entrar nessa dança individuante a psicanálise, resistente psicanálise, orgulhosa de si e de sua tradição. Podemos, todavia, já detectar que na e para a psicanálise, essas forças genéticas, entraram pela melhor porta: a rua!
Por que digo isso? Porque quem a leva para a rua a ama; os coletivos que se formam em seu nome respeitam sua tradição de formação, mas desejam-na nã
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