“A política de combate às drogas se torna mais uma forma pela qual expressamos o racismo”

“A política de combate às drogas se torna mais uma forma pela qual expressamos o racismo”
(Foto: Fronteiras do pensamento/Luiz Munhoz)
  É possível entrelaçar sua trajetória profissional e de pesquisa à sua própria experiência com o consumo de drogas? O que seu aprendizado com o uso de substâncias pode ter ensinado ao neurocientista? Sou um cientista em primeiro lugar. Quando pensamos em ciências de dados e evidências, gostamos de acreditar que as pessoas são convencidas com base neles, mas o mundo não funciona assim. As pessoas são convencidas por grandes histórias, e é melhor ter um único caso que seja emocionante, memorável, do que ter milhares de pontos de dados. E uma das coisas que tentei fazer ao longo dos meus 30 anos de carreira, e que aprendi apenas nos últimos anos, é que, se você tem experiência pessoal, isso simplesmente reforça as evidências. A experiência pessoal muitas vezes está sujeita a preconceitos e, por si só, é inútil para os cientistas e deveria sê-lo para o público. No entanto, entendemos o poder de uma história pessoal. Então, eu tento combinar os dois. Compreender essas evidências supera muito qualquer anedota. No início de sua pesquisa, você partiu da hipótese de que o uso de drogas seria prejudicial ao corpo, mas afirma que os resultados que obteve contestaram sua primeira hipótese. Como? Quando você faz o tipo de pesquisa que eu faço, é financiado e, se tiver sorte, é financiado pelo Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (NIDA, na sigla em inglês). A missão deles é focar na patologia. Nós, que estudamos drogas, partimos de uma perspectiva tendenciosa. Assumimos que todos estão tendo problemas. É por isso que

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