Dossiê | Walter Benjamin, cultura e crítica em tempos de novas barbáries
(Arte Andreia Freire / Foto Reprodução)
Walter Benjamin como caixa-preta do século 20. É impossível pensá-lo sem imagens num trágico momento de derrotas das formas dialógicas e, por isso, solidárias da experiência. A caixa-preta nos parece um duplo signo: um campo a ser prospectado no movimento de “decifragem” de enigmas (fantasmagorias) e ao mesmo tempo um guardador de memórias e sentidos de uma temporalidade.
Em 2020 teremos os 80 anos de sua morte e na última década, proporcionalmente ao seu tamanho, tivemos sintomaticamente no Brasil poucos seminários, congressos sobre o filósofo que figura entre aqueles que mais penetração têm nas diversas esferas da vida acadêmica, da História às Artes, da Filosofia à Arquitetura, da Literatura à Sociologia. A despeito dos importantes grupos de pesquisa e trabalhos sobre Benjamin, da reedição de suas obras ou daquelas tecidas a partir delas, temos a impressão de que há ainda incisivos desafios em fazer este colecionador dos estilhaços da dialética caminhar, numa flânerie pelos trópicos, mais perto da vida fora das bancas de pós-graduação e dos periódicos-commodities.
Somos um canteiro de obras que se especializou e “espacializou” num tipo de barbarismo bovarista edulcorado capaz de matar, duas vezes ou mais, jovens negros sobreviventes de chacinas, museus resistentes a incêndios, mulheres violentadas que denunciam abusos de seus corpos e desejos, ecossistemas que não pediram para ser guarda-volumes de rejeitos minerais, parlamentares do contrapelo que quase sozinhos denunciam as máfias de estimação e os mitos de ocasi
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