dossiê | Por que zapatismo?
O zapatismo nasceu nas comunidades indígenas tradicionais do sudoeste mexicano, no início dos anos 1980, com a finalidade de defender seus territórios, seu modo de vida, sua autonomia cultural, política e econômica. Combate a violência do Estado, a corrupção de suas instituições, a ganância das corporações, o extrativismo galopante e a destruição sistemática das fontes de subsistência dessas comunidades.
Quando o levante armado zapatista conquistou três cidades de Chiapas, em 1994, a relação entre as comunidades indígenas e o Estado mexicano sofreu uma reviravolta irreversível. De nada adiantou o poder descomunal do Exército Federal, o desprezo da elite política e econômica mexicana, o cerco midiático e a tentativa de criminalizar o zapatismo. Assim, o que poderia parecer um movimento étnico tradicional, localista e regressivo, ou marxista-leninista em terras latino-americanas, revelou-se um dos laboratórios políticos mais interessantes do planeta.
Eis alguns de seus traços mais gerais: pegar em armas não para tomar de assalto o Estado e militarizar a existência, mas para recusar o Estado e seu monopólio da força; não querer o poder, mas largá-lo; não “dominar” a economia, mas desmonetizar as trocas; não curvar-se à Hidra capitalista, nem à globalização neoliberal, mas forjar uma relação com a Terra que rechaça a propriedade e a destruição. Na contramão da falida representatividade burguesa, o desafio consiste em cultivar práticas radicalmente democráticas. Cargos não são remunerados, as consultas são
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