Dos livros às telas: como o true crime dominou a nossa cultura (e o que isso impacta)
Imagem de Immo Wegmann no Unsplash
O assassinato dos pais de Suzane Von Richthofen à mando da filha aconteceu há mais de duas décadas, mas até hoje o assunto ainda repercute na mídia. É sobre esse tipo de impacto que nós vamos falar.
No final do século XIX, um assassino em série aterrorizou a população de um distrito de Londres, no Reino Unido. Conhecido pela alcunha de “Jack the Ripper” (ou, em português, “Jack, o Estripador”), ele dominou as notícias dos jornais da época, com histórias reais e falsas escritas a respeito dos crimes.
A identidade de Jack nunca foi descoberta, mas as obras de ficção a seu respeito servem como um exemplo de true crime literário, décadas antes do gênero dominar as plataformas de streaming. As tecnologias mudaram, mas a abordagem de crimes se mantém como um tema de alta popularidade.
Nesse texto nós vamos falar sobre o fenômeno do true crime no Brasil e como esse gênero de obras audiovisuais dominou a nossa cultura. A partir disso, vamos analisar os impactos positivos e negativos, tomando como base um estudo relevante da ExpressVPN sobre o uso de tecnologias no true crime.
Quais os impactos do true crime na cultura brasileira?
De acordo com o estudo da ExpressVPN, os true crime podem ter impactos positivos e negativos para a sociedade, independentemente do seu país de origem. Como exemplo positivo, eles citam mudanças nas leis, as quais auxiliam para que um tipo de crime “infame” seja mais prevenido em casos futuros.
Na situação dos true crime brasileiros, podemos pegar esse mesmo ponto para mencionar um aspecto positivo: considerando a lentidão do sistema judiciário e criminal brasileiro, é algo positivo que os casos que se tornam “notórios” sejam julgados mais rapidamente do que outros crimes fora da mídia.
Quais são os casos de true crime que mais impactaram o Brasil?
O Brasil tem uma série de casos de true crime que ficaram muito famosos na mídia; o que, como exploramos antes, tem impactos positivos e negativos na cultura brasileira. Nós separamos quatro dentre os mais conhecidos, destacando crimes separados por anos, às vezes décadas, uns dos outros.
1 – O assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen
O assassinato dos pais de Suzane von Richthofen foi mencionado já durante a abertura desse texto, e por bons motivos, já que se trata daquele que é o caso criminal mais conhecido do país. As razões para a fama são muitas, incluindo o fato de que as vítimas eram um casal de classe média alta de São Paulo.
Nos mais de vinte anos que nos separam do assassinato do casal Manfred e Marísia von Richthofen, dezenas de documentários, milhares de vídeos e podcasts e três longas-metragens de ficção foram produzidos inspirados pelo caso. E a tendência é que as adaptações continuem num futuro próximo.
2 – O sequestro do ônibus 174
Durante a tarde de 12 de junho de 2000, no Rio de Janeiro, um ônibus com passageiros foi sequestrado por um homem chamado Sandro Barbosa do Nascimento. O evento durou cinco horas e terminou com dois mortos: o sequestrador e uma vítima, Geísa Firmo Gonçalves, parcialmente baleada pela polícia.
O crime foi retratado no documentário “Ônibus 174” e serve como estudo de caso sobre o ciclo da violência e sobre o abandono social. Sandro foi um dos sobreviventes da Chacina da Candelária, outro evento criminoso do país, onde oito jovens foram assassinados. Décadas depois, o caso ainda choca.
3 – Os crimes televisionados contra Eloá Cristina
O artigo da ExpressVPN trabalha casos variados na história onde a mídia teve um papel não apenas na divulgação do crime, mas no seu desenrolar. Um exemplo brasileiro desse tipo de envolvimento é o sequestro e posterior assassinato da adolescente Eloá Cristina, com crimes cobertos ao vivo pela TV.
O nível irresponsável de envolvimento da mídia foi tanto que a jornalista e apresentadora Sônia Abrão chegou até mesmo a entrevistar o sequestrador durante os momentos em que ele mantinha a vítima cativa. O resultado foi devastador, com Eloá perecendo nas mãos do algoz por uma sucessão de falhas.
4 – O incêndio do Edifício Joelma
O incêndio no Edifício Joelma tem um caráter distinto de outros crimes brasileiros pelo fato de que, ao pensar na tragédia, não a associamos diretamente com um criminoso. A verdade é que o evento teve sim culpados condenados na justiça, incluindo um empresário, um engenheiro e dois eletricistas.
O incêndio no Edifício Joelma é outro exemplo que ajuda a corroborar a ideia do artigo da ExpressVPN de que o true crime não é novo, sendo um caso de 1974 com repercussões até os dias de hoje. As mais desagradáveis são aquelas que envolvem supostos fenômenos “sobrenaturais” envolvendo o evento.
As razões para que um crime específico atraia a atenção da opinião pública são diversas, mas o que há em comum é a cobertura massiva da mídia, o que influencia o andamento do caso. Diante de tudo isso, cabe aos espectadores utilizarem o pensamento crítico e consumirem os materiais com critério.