Devaneios de um ecofilósofo
O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (Foto: Reprodução)
Não é incomum escutar a opinião de que Jean-Jacques Rousseau representa uma espécie de precursor do ecologismo contemporâneo. Esse tipo de afirmação deve ser tomada com muito cuidado. Ela não é totalmente desprovida de sentido, na medida em que o filósofo suíço representou um momento marcante na afirmação positiva da “natureza” e da “condição natural” do ser humano na construção do mundo moderno.
A ideia mesma de precursor, no entanto, já é muito enganosa. As tendências de pensamento não avançam de forma linear e acumulativa, mas sim através de genealogias complexas e, muitas vezes, contraditórias.
A investigação histórica, por exemplo, vem questionando cada vez mais a identificação direta e exclusiva entre a tradição romântica e o ecologismo, defendida por alguns autores desde a década de 1970. A presença do racionalismo cientificista e da atitude crítica do Iluminismo é também um componente essencial na gênese da sensibilidade ecológica contemporânea.
A ideia de precursor, além disso, deixa escapar a historicidade de cada momento e de cada contexto no jogo de continuidades e descontinuidades que constrói a história humana. O mundo de Rousseau, anterior ao grande avanço da civilização urbano-industrial, que mudou a escala do impacto humano sobre o planeta, e à revolução darwiniana, que estabeleceu uma visão muito mais aberta e dinâmica da natureza, é de difícil comparação com o contexto histórico do ecologismo atual.
Dito isso, estou longe de querer defender uma possível irrelevância de Rousseau
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