Destruir para recompor
Rafael Assef, "Roupa nº5", 2002 (Foto: Reprodução)
No dia 13 de maio de 2019, o ator americano Isaac Kappy, de 42 anos, se matou, saltando de uma ponte sobre uma rodovia no estado do Arizona, nos Estados Unidos. Dias antes, ele havia publicado uma carta que chamou atenção pela maneira rebaixada com que descreveu a si mesmo. Dizendo ter feito uma “introspecção”, ele afirma ser um “traidor”, um homem “mau”, “arrogante” e “mesquinho” que só fez mal às pessoas. Confessa estar arrependido por seus erros e pede perdão àqueles que prejudicou ou traiu.
Nota-se a semelhança entre os termos dessa carta seguida de suicídio e a admissão de culpa do réu diante do tribunal, depois que uma investigação aponta ser ele o culpado de um crime para o qual a sentença é a pena de morte. Nesse sentido, um suicídio como o de Kappy visaria restituir aos outros o que a pessoa acredita ter lesado neles e, também, ao cumprimento da sentença autoestabelecida para pagar pelos próprios crimes, restabelecendo a dignidade, tal como no ritual japonês do harakiri. O psicanalista veria nisso uma comprovação da ideia de Freud: o suicídio é um assassinato do objeto mau que o indivíduo acredita ter-se tornado. Ou seja, pelo suicídio, o que se busca é uma restauração. Resguardadas as singularidades que compõem o universo de suicidas e das diferentes motivações para o autoextermínio, um elemento comum se destaca, ainda que a título de hipótese: o suicídio revelaria o seu lado paradoxal, por ser autoconservador.
Se esse aspecto paradoxal do suicídio é evidente na morte de Kappy, ele se rev
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »