Desafios do Kikito
Jaqueline Gutierres
Um dos mais importantes eventos de cinema do país, o Festival de Gramado completa 39 edições ininterruptas. Em 2011, contou com a inscrição de 180 longas-metragens e 371 curtas-metragens, dos quais concorrerão ao Kikito (nome dado ao troféu e, também, símbolo da cidade de Gramado) sete longas brasileiros, sete estrangeiros, 16 curtas nacionais e 20 filmes regionais na Mostra Gaúcha.
Criado em 1973, o evento – que busca promover e premiar a produção cinematográfica latino-americana – sofreu várias modificações, como no período de crise do cinema nacional no início da década de 1990, que o obrigou a abrir-se à produção latina. Frente às mudanças adotadas ao longo do tempo, a CULT perguntou a especialistas o que acham do festival hoje.
Onde: Gramado (RS)
Quando: 5 a 13/8
Quanto: R$ 15 a R$ 100
Info.: www.festivaldegramado.net, (51) 3235-1776
LUIZ CARLOS BARRETO, produtor de filmes
Vai bem
• O festival tem sua importância garantida na história do cinema brasileiro contemporâneo. Isso foi construído com o trabalho eficiente de seus organizadores e promotores.
• Poderia citar inúmeros filmes que fizeram do Festival de Gramado seu ponto de partida para entrada no mercado brasileiro e, até mesmo, internacional, por meio dos contatos feitos com críticos, distribuidores, exibidores que frequentavam com assiduidade o evento nos anos 1960 e 1970.
Vai mal
• Deveríamos voltar a fazer de Gramado, além de um festival de premiação artística, um encontro com distribuidores e exibidores da América Latina.
LUIZ ZANIN, crítico de cinema do jornal O Estado de S. Paulo
Vai bem
• Nos últimos anos, com a contratação de dois novos críticos, Sérgio Sanz e José Carlos Avellar, para fazer a curadoria, o evento melhorou muito.
• Pelas referências que tenho e com a lista de filmes que recebi, acho que esta edição do festival vai ser muito interessante. Minha expectativa é muito boa para este ano.
Vai mal
• Depois de sua importância inicial, o Festival de Gramado rendeu-se à badalação das estrelas de televisão, que foram colocadas em primeiro plano, em prejuízo dos filmes lá exibidos. Com o tempo, a qualidade dos filmes também caiu.
• O evento ainda vive uma situação meio esquizofrênica: filmes de arte na tela, ênfase na badalação no entorno da cidade, glamour no tapete vermelho etc. Está em fase de transição, a meu ver, sem um perfil definido.
JOSÉ GERALDO COUTO, crítico de cinema
Vai bem
• Tenho grande expectativa quanto ao longa de ficção País do Desejo, de Paulo Caldas. Uma Longa Viagem, de Lúcia Murat, é um forte competidor entre os documentários. Riscado, de Gustavo Pizzi, é um bom exemplo de filme de entretenimento inteligente.
O evento tem méritos ao propiciar certa descentralização geográfica, ao se firmar como evento importante no extremo sul do país. Em seus melhores momentos, promoveu o cinema de autor, a renovação do cinema, e suscitou debates importantes para o surgimento de várias gerações de realizadores gaúchos, como a de Jorge Furtado e da Casa de Cinema.
Vai mal
• Na década de 1990, com a produção brasileira quase parada, Gramado viu-se obrigado a tornar-se um festival latino-americano. Quando a produção nacional voltou a aumentar, o evento teve dificuldade de se redesenhar.
• Acho que, do ponto de vista artístico e político, Gramado já não é o mais importante. Brasília, Paulínia, Tiradentes e Recife, por exemplo, me parecem mais vitais por arriscarem mais na curadoria, na escolha dos filmes em competição e nos eventos paralelos.
|