Desafio da alteridade
A filósofa Marcia Tiburi (Foto Simone Marinho / Divulgação)
O termo Alteridade soa estranho quando pronunciado no dia a dia. Por Alteridade referimo-nos à qualidade do que é Outro. Estranha em nosso dia a dia é, portanto, a palavra que designa a dimensão do estranho enquanto Outro, e concerne ao desconhecido, ao que nele é inexplicável e imensurável.
Nenhum sistema de pensamento, nenhuma lógica pode dar conta do Outro ao qual o termo se refere. Nenhuma explicação, muito menos construída de antemão, oferece uma resposta suficiente sobre ele. Não existe resposta possível no âmbito do que só admite relação com a pergunta. É essa pergunta infinita que é posta em questão no termo Alteridade.
Na tentativa de responder à questão infinita do Outro, não deixamos de fabular sobre ele, de encontrar imagens e figuras que o representem. E ele resiste inalcançável diante de nossa perigosa operação mental que é a identificação. E é porque a estranheza – sempre confirmada na intangibilidade disso que se constitui como não identificável – nos dá medo, que buscamos torná-la finita pela explicação em um procedimento que parece totalmente racional, mas que, na verdade, tem muito de mágico: o da identificação.
Ansiosa e taxativa, a identificação nos leva a confundir o Outro com o mal. E se o mal é o que deve ser extirpado, exorcizado, esquecido e apagado, não resta muito ao Outro. Essa associação transformou-se na fórmula que estrutura até hoje as sociedades: estrangeiros, bruxas, demônios, loucos, hereges, anormais, diferentes, são banidos como se fossem o mal. Cada época constrói o se
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »