Derrida e a defesa da honra da razão
Jacques Derrida (Foto Denis Dailleux / Agence Vu / Latinstock)
Curiosa e instigante, no imaginário filosófico contemporâneo, é a “personagem” Jacques Derrida. Ele aparece como “o desconstrutor”, e essa imagem tem sua razão de ser, pois, iniciando sua vida filosófica pela via da fenomenologia de Husserl, Derrida não deixou nunca de estudar a tradição clássica – de Platão a Heidegger –, mantendo, porém, uma relação muito complexa com ela, afinal, o que interessava ao filósofo nascido na Argélia era mostrar que essa tradição se alimenta justamente daquilo que ela não mostra. Tal abordagem crítica diante de toda e qualquer prática ou teoria é o que Derrida chamava de “desconstrução”.
Todavia, a desconstrução derridiana não significa destruição, mas um modo de desfazer uma estrutura para fazer aparecer seu esqueleto. Em outras palavras, ela equivaleria ao “refazer” algo, no sentido em que se fala, comumente, de “refazer” um caminho: alguém que refaz o caminho de um outro não abre propriamente a senda já batida, não faz um caminho novo, mas refaz a mesma via ao andar por onde o outro andou. A analogia serve para mostrar o que Derrida considerava imprescindível: desmontar as experiências humanas para compreendê-las, assim como se desmonta uma edificação ou um artefato para expor suas estruturas, sua nervura e o seu esqueleto.
Se fosse apenas isso, a desconstrução reduzir-se-ia a um mero procedimento de conhecimento por análise, ou mesmo por “refacção”, e, nisso, não teria muito de original, visto que mesmo alguns neotomistas, muito antes da publicação de A escri
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