Democracia: palavra mágica
Marcia Tiburi (Foto: Simone Marinho/ Divulgação)
O capitalismo é um reducionismo. Assim como o patriarcado − sua versão de gênero − é a redução do ser humano ao sexo (no caso, o binarismo heterossexual homem-mulher), o capitalismo é a redução da vida ao plano econômico. É o nome de uma visão de mundo, em que tudo se torna inessencial relativamente à “forma mercadoria” segundo a qual tudo pode ser comprado e vendido. Nessa visão de mundo, o pensamento está minado pela lógica do “rendimento”. Viver torna-se questão econômica.
O capital é o horizonte que conduz toda nossa hermenêutica, a ponto de não se admitirem modos de pensar e de agir diferentes em seu regime. O ato de falar e escrever, pelo qual expressamos pensamentos, também entra nesse jogo que é, afinal, um jogo de linguagem. Por isso, no capitalismo cuida-se tanto da ordem do discurso (o que antigamente era chamado de retórica). A regulamentação das falas e textos visa a não prejudicar o sistema.
Nesse contexto, as palavras funcionam como estigmas ou como dogmas que sustentam ideias orientadoras de práticas. A ordem do discurso capitalista é basicamente teológica. O capitalismo funciona como uma religião no âmbito das escrituras e das pregações (em geral, no púlpito tecnológico da televisão). Assim como questionar a palavra “Deus” gera o estigma do herege ou do ateu, a palavra “capitalista”, quando questionada, gera o estigma do “comunista”, ele mesmo tratado como um tipo de ateu em sua descrença crítica do sistema.
O capitalismo depende da criação de estigmas contra tudo o que vem a crit
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