Da importância do desejo
Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de maio de 2021 é “desejo”
Ao longo de minha vida, desde que comecei a me entender como gente, sempre tive o desejo de ser psicóloga, mas nunca consegui quando mais nova, pois meus pais não tinham condições de pagar o curso. Me casei, tive meus filhos e priorizei criá-los, mesmo tendo as nossas dificuldades financeiras. O que entrava de recursos era para a educação de meus filhos, para mantermos o sustento da casa e de tudo que precisássemos. Além do mais, faltava-me tempo para pensar nos meus desejos, guardei-os para mim e esperei.
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Certo dia, o meu ninho ficou vazio. A casa já não tinha mais meus filhos, pois cada um seguiu o seu destino, se casaram. A minha vida ficou sem sentido, cadê as minhas ocupações de antes, que preenchiam o meu tempo e me deixavam ocupada durante todo o dia? Cadê os meus filhos para cuidar, estarem sempre perto mim, para ter a preocupação de fazer as coisas para eles? E assim os meus dias iam ficando cada vez mais difíceis de levar. Foi aí que o meu dilema começou.
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Por mais que me ocupasse com outras coisas, me faltava algo, que procurava e não achava. Comecei a ter “lapsos de memória”. Fiquei preocupa. Em uma certa madruga, me levantei para ir ao banheiro e me sentei na cama. Eu não sabia onde estava o banheiro. Então principio a ficar desesperada. Quando voltei a me lembrar, tomei uma decisão na mesma hora. Meu marido acordou com o meu choro e, neste mesmo momento, conversamos e tomamos a decisão juntos: retornar aos estudos.
Foi a maior decisão da minha vida. Decidir voltar a estudar, a ativar a mente, a ocupar e explorar o que ela ainda tinha para mim. Depois de muitos anos sem entrar em sala de aula, foi realmente um grande desafio para mim. Entrei no curso de psicologia. Um grande desafio, para a mente não parar.
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Antes da pandemia do Coronavírus, havia começado a pagar a festa de formatura. Porém, com a chegada do vírus ao Brasil, minha vida ficou mais difícil. Confinada em casa, a estrutura financeira sofreu um baque, fazendo com que eu desistisse da festa para dar continuidade ao curso. Tive que cortar vários dos meus desejos para realizar um outro, dos meus sonhos.
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Hoje estou no último ano do curso, fazendo o TCC que, para mim, tornou-se outro desafio que me angustia, me anseia e me deixa ocupada 24 horas. Foi um desejo e um sonho de muitos anos que está prestes a se tornar realidade. Amo a psicologia, amo gente, amo cuidar e dedicar o meu tempo a quem precisa dos meus cuidados. Um conselho darei para você que conseguiu chega ao término desta leitura. Não desista dos seus sonhos, pois eles são a base da sua sustentação e de realização. Segundo Sigmund Freud, os sonhos são mensagens do inconsciente para os desejos reprimidos.
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Já para a psicologia analítica, o sonho é fonte de compreensão sobre a conjuntura das características de quem sonha, expressando questões da alma que costumam ser ocultas ou desprezadas em sua maneira de se comportar na consciência. Como dizia Carl Jung, “quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”.
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Rosilda Barreto, 61, mora em Rio Bonito, RJ.
É estudante de psicologia e está no último ano do curso.
