Da ameaça ao feminicídio: Sentimentos de posse e desprezo sob as vestes de crime passional
Edição do mêsManifestação no Dia Internacional da Mulher, em Brasília, neste ano (Wilson Dias/Agência Brasil)
Joana registrou ocorrência por lesão corporal e ameaças, crimes praticados na presença de seus dois filhos. No processo que tramitou perante um Juizado de Violência Doméstica, Joana teve as medidas protetivas indeferidas sob o argumento de que, apesar de descrever intensa violência física e emocional por 14 anos, havia nos autos apenas a palavra da vítima. O agressor de Joana, consultor financeiro, foi condenado por lesão corporal, mas mantido na residência de Joana, pois na sentença condenatória nada foi mencionado quanto às medidas protetivas. Algum tempo depois, o agressor matou Joana com diversas facadas e fugiu com os filhos do casal
2014, fatos reais; nomes fictícios
A história de Joana é o retrato da história de muitas mulheres no Brasil, marcado pela contradição de ser o país do Carnaval e, ao mesmo tempo, o país em que homens punem com a morte mulheres que, na visão deles, se afastam do modelo tradicional de boas mães, esposas e filhas. Ou, pior, que “não são obedientes”, como eles acham que deveria ser o comportamento delas, ou que pedem o fim do relacionamento.
Mulheres que ousam dizer “não” ou que têm voz ativa sofrem uma violência velada (ou revelada) em vários setores de sua vida, mas é nas relações íntimas que ficam mais ameaçadas. A casa – asilo inviolável protegido pela Constituição – é para elas o lugar de maior risco.
No país do futebol e do Carnaval, a cada minuto meninas e mulheres são violadas, silenciadas e revitimizadas. No último ano, ocorreram 1.467 feminicídios, 83.998 estupros
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