Compromisso com o debate cultural
Mesa "Crítica literária e os novos escritores" durante o II Congresso de Jornalismo Cultural (TV CULT)
Que a cultura brasileira figura entre aquelas de maior pluralidade no mundo é algo quase inconteste. Afirmar peremptoriamente que o jornalismo consegue abarcar tal diversidade e cumprir seu papel de mediador entre os fenômenos culturais e o público soaria ingênuo aos ouvidos de um leitor mais crítico. Infelizmente, dada a realidade vigente em parte da imprensa brasileira. Felizmente, se pensarmos que ainda persiste um teor crítico capaz de repensar e, por que não, transformar esse cenário. É ancorada nessa crítica transformadora – que insiste em manter-se de pé, mesmo em face de tantas simplificações – que a Revista CULT organizou, pelo segundo ano consecutivo, o Congresso de Jornalismo Cultural.
Ao longo de quatro dias, 500 participantes, de diversas áreas do conhecimento, vindos de 17 estados brasileiros, assistiram a mais de 40 horas de debates. Entre as dezenas de palestrantes que compuseram o evento, estiveram presentes profissionais da imprensa, críticos de arte, pensadores e artistas – todos reunidos sob a tarefa de discutir a cultura e o modo como o jornalismo dela se apropria, ao promover a mediação com o grande público. Para além do cenário nacional, neste ano o Congresso contou com a participação de jornalistas do exterior, que puderam apresentar à plateia um painel do que de mais importante acontece no jornalismo cultural praticado em seus países.
Àqueles interessados em refletir sobre a cultura e sua relação com a atividade jornalística e também àqueles que relegam o jornalismo cultural a uma condição ancilar, fazemos o convite para participarem do nos próximos anos. Se ao final tivermos contribuído para o fortalecimento da crítica cultural brasileira, bem como para alçar o jornalismo cultural à categoria de protagonista no debate acerca dos fenômenos culturais do país, certamente essa será nossa maior conquista.
Leia a seguir depoimentos de palestrantes que estiveram no II Congresso de Jornalismo Cultural.
“Eventos como esse são muito importantes para o país. Eles criam um espaço de discussão sobre um tema que é novo na pauta política brasileira, que é a política cultural, assim como a política do meio ambiente. São temas recentes da agenda nacional e mundial que devem ser firmados; sua importância tem de estar no centro da opinião pública, do debate público. Isso é impossível sem uma imprensa especializada.”
Alfredo Manevy, secretário-executivo do Ministério da Cultura
“Um congresso dessa natureza desenvolve qualquer cultura em qualquer país. Em se tratando do Brasil, então, passa a ser uma necessidade absoluta.”
Denise Stoklos, atriz, diretora e escritora
“Antigamente falar em jornalismo cultural era algo extremamente elitizado, que percorria alguns guetos na sociedade. Hoje o jornalismo cultural está ao alcance de um maior número de pessoas. Por outro lado, nós estamos nos debatendo com a qualidade do que está sendo feito. Será que estamos perdendo densidade, a capacidade de análise, a capacidade de propor o novo, a ousadia?”
Laura Greenhalgh, editora-executiva do jornal O Estado de S. Paulo
“No campo da cultura, em especial, nós necessitamos de pessoas capazes de informar adequadamente, de trazer as questões de maneira absolutamente profunda, séria, convincente, de dar um panorama real da situação, de aprofundar temas que são necessários e de permitir que as pessoas tenham mais acesso às ações culturais como um todo.”
Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc-SP
“Eu nunca tinha visto uma convocação como esta do II Congresso de Jornalismo Cultural. Seja com relação à quantidade de atividades organizadas, ao talento das pessoas que estão participando, seja com relação à quantidade de estudantes.”
Nuria Azancot, redatora-chefe do suplemento cultural El Cultural, do jornal espanhol El Mundo
“É muito bacana que se possa congregar (congresso, não é?), colocar todos juntos e promover essa troca que eu acho muito salutar, especialmente quando se têm olhares diferentes, pessoas com formações diferentes. No final, isso rende um caldo muito útil.”
Humberto Werneck, jornalista e escritor
“Esse é um dos poucos eventos em que os jornalistas podem se encontrar para discutir questões ligadas à maneira como a cultura circula na vida social.”
Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP
“Na França, temos sempre uma paixão pela especialidade, pela especialização. É talvez uma das coisas que nós devemos repensar. Lá existem os jornalistas críticos de cinema, os críticos de literatura, de arte etc., e é raro que eles se encontrem entre si. Pode ser até que existam encontros como esse na França, mas eu pessoalmente não conheço. De todo modo, não há um grande simpósio como esse, com essa escala.”
Hervé Aubron, editor-adjunto da revista francesa Le Magazine Littéraire
“Acho fundamental que haja espaços para a reflexão e para debates que possam reunir pessoas com formações e experiências profissionais diferentes, não só pessoas da universidade, mas também do mercado de trabalho. O Congresso de Jornalismo Cultural oferece essa oportunidade, o que eu acho decisivo para renovar o jornalismo.”
Márion Strecker, jornalista e diretora de conteúdo do UOL
“Que esses encontros sejam, como estão sendo, estruturados de maneira pluralista, ou seja, com pessoas com opi-niões divergentes que podem ser confrontadas em um debate público, com a assistência de estudantes e formadores de opinião, que amplificam esse debate e fazem com que essas ideias e esses confrontos tenham repercussão.”
Luiz Zanin, crítico de cinema do jornal O Estado de S. Paulo
“Penso que uma das formas de o Congresso melhorar a cobertura jornalística seja colocar em contato jornalistas, críticos literários e professores universitários para debaterem temas relevantes. Cada um desses profissionais tem uma experiência particular. Que todos possam ouvir o que os demais têm a dizer e que o debate se processe de modo mais amplo é, sem dúvida, muito relevante.”
Paulo Franchetti, professor de teoria literária da Unicamp
“Na Alemanha não existem debates como este. Acho muito importante essa abertura internacional, por isso eu estou muito feliz em estar aqui e ter conhecido a Revista CULT.”
Julia Encke, repórter e crítica literária do jornal alemão Frankfurter Allgemeine
“Um congresso como este é importante na medida em que o jornalismo cultural acabou se tornando o primo pobre do jornalismo em geral. Os cadernos de cultura foram reduzidos, não existe uma preocupação com a formação do jornalista para a área cultural.”
Manuel da Costa Pinto, jornalista e crítico literário
“Uma das coisas mais importantes que existem e que mais faltam no país hoje é o debate verdadeiro. Gente de muitas posições, com ideias vindas de muitos lugares se encontrando no mesmo ponto. Essa é uma atitude fundamental para a vida cultural e cada vez mais rara no Brasil. O que está acontecendo aqui é uma exceção importante para que a gente encontre os caminhos para o Brasil.”
Jorge Caldeira, jornalista e escritor
“No momento em que a gente discute tanto o papel do jornalismo cultural e da grande imprensa, eu acho que a Revista CULT dá uma bela resposta. O papel do jornalismo em uma empresa maior, que tem mais agilidade, uma estrutura maior, é colocar assuntos como esse em discussão.”
Claudia Laitano, editora de cultura do jornal Zero Hora
“Por ser organizado por uma das principais, senão a mais importante entre as revistas de jornalismo cultural brasileiro, esse congresso tende naturalmente a se tornar refe-rência muito rapidamente, ou seja, ele próprio cria um fato e esse fato tende a mudar de alguma forma a própria qualidade daquilo que se faz em jornalismo cultural.”
Ruy Braga, professor de sociologia da USP