Como será viver sem futuro?
Edição do mêsA exposição imersiva Van Gogh & impressionistas, que reúne ambientes pensados como cenários para posts de redes sociais e nenhuma pintura de Van Gogh (divulgação)
Agora, só podemos esperar que a outra das ‘potências celestes’, Eros, empenhe no esforço de se afirmar na luta que trava contra seu mortal adversário. Mas quem pode prever com que sucesso e com que desfecho?” Assim Freud encerra em 1930 seu célebre O mal-estar na civilização.
É um “livro sombrio”, diz Peter Gay, por abordar os efeitos melancólicos do entreguerras, da crise econômica em razão do craque da Bolsa de 1929, da ascensão do fascismo europeu, notadamente do nazismo alemão, e, com efeito, da miséria subjetiva ou da “tragédia da condição humana”, como Lacan o traduz. A pulsão de morte triunfava, pois se era necessário esperar que Eros viesse lutar contra Tânatos, é porque Tânatos já estava lá!
E muito provavelmente também esteja aqui entre nós, neste alvorecer da pós-modernidade. Experimentamos hoje uma especificidade tanatomaníaca: a percepção compartilhada de que o mundo inteiro se encontra à iminência de um colapso – político, econômico, ambiental, social e subjetivo. A objetificação da vida, a digitalização da existência, a metástase do gozo imediato, o consumo de (e para) um Eu infinito, soberano, vêm acelerando exponencialmente essa percepção. Não mais as repressões, mas, sim, os excessos, podem estar contribuindo para lentamente cancelar o futuro: excesso de tecnologia, de virtualidade, de imagens, de violência, de segregação…
Jovens estão no epicentro dessa mudança. As redes sociais e sua hiperexposição praticamente sem limite de intimidades, opiniões, acossamentos, canc
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »