Como a Arte retrata a crise
Como retratar a crise? É esta a questão central do dossiê da edição de junho da “Esprit”, clássica revista francesa dedicada às ciências humanas.
Com artigos assinados por intelectuais como Georges Prévélakis, professor de geopolítica na Universidade de Sorbonne (Paris 1), Carole Desbarats, crítica e historiadora de cinema, e Alice Béja, especialista em literatura norte-americana e editora-assistente da publicação, a revista traz uma ampla contemplação sobre a resposta da arte aos efeitos da recessão econômica mundial.
Em seu ensaio, Béja compara a produção artística da época da Grande Depressão, quando escritores, como John Steinbeck, e fotógrafos, como Dorothea Lange, buscaram retratar o “rosto do sofrimento causado pela crise”, à contemporânea. Ela cita como exemplo a repercussão que os militantes do Occupy alcançaram com seus protestos. “Eles entenderam a necessidade de tornar a crise visível”, escreve ela.
Já Desbarats baseia seu artigo numa comparação entre cineastas americanos e franceses. Para ela, os primeiros são muito mais entusiasmados em filmar as grandes histórias e os desastres, enquanto os últimos tendem a “responder mais silenciosamente”, preferindo uma abordagem menos direta, restringindo-se aos efeitos da recessão em âmbito familiar.
Prévélakis, por sua vez, disserta sobre os efeitos da crise na intelectualidade grega que, segundo ele, hoje poderia ser descrita por duas palavras: aporia e desamparo. Ele acredita que a entrada da Grécia na União Europeia, em 1981, foi responsável por um empobrecimento da cultura grega, que se viu forçada a se “ocidentalizar” em detrimento de toda sua produção cultural anterior, que passou a ser ignorada nas escolas. O resultado, diz, foi o “desaparecimento da arte” e o “triunfo do conformismo”.
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PARA ALÉM DO BELO E DO FEIO – A MORTE DA ARTE NO BRASIL
Uma das frases que mais encanta os brasileiros é “gosto não se discute”. Parece que toda vez que alguém a pronuncia faz na verdade uma profissão de fé. Demonstra, não importa como, que se diferencia de uma verdadeira “legião de fanáticos”: pessoas retrógradas e de “direita” que sustentam que a música, a pintura, o cinema e a literatura (só para citar alguns exemplos) tem regras próprias cujo domínio exige por parte do artista uma atividade disciplinada e, em certa aspecto, racional. Proclama-se orgulhosamente que a chamada “inspiração” não tem regras, coisa que me faz recordar gente que, substituindo turismo por estudo, julga-se grande conhecedora de países estrangeiros. É cômico (para não dizer triste) observar aqueles que,transformando ateliers e estúdios de gravação em consultórios de psicanálise, misturam os conceitos de beleza e democracia de uma forma tão desonesta.
O objetivo deste pequeno texto é uma ligeira reflexão sob o conceito de beleza e da própria arte no Brasil dos dias de hoje. Antes de começar; algumas rápidas observações. Estética é um campo próprio da filosofia. Seu domínio está muito além da capacidade de alguém que aborda o assunto como amador porque encontrou na Medicina uma profissão e na Filosofia um hobby. Decorre daí a necessidade de um aviso – que ninguém perca tempo achando que vai aqui uma definição clara daquilo que é ou não é “arte verdadeira”. O enfoque é muito mais modesto. Trata-se de apresentar a confusão existente entre os conceitos de beleza e justiça e sustentar que, uma vez proprietária do discurso que diz o que é a verdade na História, uma “elite cultural” passou também a definir o que é ou não a verdadeira Arte. Foi na década de 1960 que isto ocorreu. Na filosofia imperava a desconstrução. Derrida, Deleuze, Foucault, entre outros questionando a própria linguagem, reduziram aquilo que havia de racional na comunicação a uma simples manifestação de uma verdade maior – uma verdade simbólica incapaz de ser alcançada tanto pelo homem comum quanto pelo intelectual “não engajado”. Só era considerada arte aquela manifestação capaz de promover “transformação social”. Foi dessa linha de pensamento que surgiram as condições necessárias para que Sabiá, em 1968 fosse vaiada por uma plateia que preferiu um hino maoísta, Para não dizer que não falei de Flores, como vencedor do Terceiro Festival Internacional da Canção. Esse foi, na minha opinião, um momento crucial na história da arte brasileira. Ao vaiar a obra-prima de Tom Jobim, o público brasileiro fazia uma profecia – dali em diante poderia se esperar de tudo: desde Valesca Popozuda até o Bonde do Tigrão abriu-se a lata de lixo da MPB. Ao mesmo tempo agonizavam o cinema, o teatro e as artes plásticas. A geração de 1968 conseguiu acabar com toda necessidade de recolhimento e do esforço de um verdadeiro artista quando pretende alcançar o belo e desde aquela época até hoje o que se assiste num país com a riqueza cultural do Brasil é um festival de obscenidades e uma mediocridade incrível que prima por chocar e agredir. Essa “nova geração”, sendo incapaz de saber o que o belo, define de forma magistral o que é o feio. Ex-prostitutas, assaltantes e traficantes lotam estádios inteiros com o charme de pertencerem “a comunidade”, “ao mundo real”, e de cantarem e atuarem “sem preconceitos” porque são “gente do povo” – como se isso fosse pré-requisito mínimo para “ser artista”. Cantam, não as ruas, mas o lixo delas nas grandes cidades porque fazem a apologia da maconha, do crack e da iniciação sexual precoce da mulher brasileira.
Nossa literatura toda prima pela pornografia e desabafos de escritoras que fracassaram no casamento e na criação dos filhos. Nossos “grandes escritores” são uma vergonha num país que deu ao mundo gente como Machado de Assis, Érico Veríssimo e Mário Quintana, além de pensadores como Gilberto Freire ou Mário Ferreira dos Santos. Seu único dado de currículo é literalmente terem sobrevivido ao uso fanático de drogas e as tais “experiências místicas” dos anos 60. Nossos artistas plásticos flertam com a esquizofrenia a ponto de, ao entrarmos em uma exposição, não sabermos o que é a “obra” e o que pertence a parte do ambiente onde não passou o serviço de limpeza. Na mesma linha, o cinema nacional leva as telas a vida de uma prostituta viciada em cocaína como alguém que “venceu na vida”.
Tudo lixo…tudo mentira..e pior financiado por um Governo Federal corrupto que insiste em promover esse tipo de gente sempre, é claro, roubando tudo que pode, inaugurando todo tipo de obra com cantoras nordestinas de minissaias tão curtas quanto suas ideias e bobalhões com cabelo moicano cheio de gel cantando com sotaque de Ribeirão Preto.
Encerro aqui meus amigos. Que vergonha ser brasileiro nessa hora! Nietzsche achava que deveríamos buscar uma vida além do bem e do mal. Ele jamais conseguiu e morreu louco por causa disso mas o Brasil alcançou algo impressionante – uma arte além do belo e do feio, uma imundície tão grande que não representa nada mais do que a morte da própria arte.
Porto Alegre, 25 de janeiro de 2013
cardiopires@gmail.com
Milton Pires
Médico
Porto Alegre – RS