Celular e reza

Celular e reza
A filósofa Marcia Tiburi (Foto Simone Marinho / Divulgação)
  Nossa época é caracterizada por crenças religiosas irrefletidas e inconscientes. O lugar da religião ou da religiosidade na vida cotidiana fica entre o autoritário fundamentalismo como negação de outras religiões e da vida laica, e seu curioso complemento, uma religiosidade tão banal quanto profana relacionada a diários rituais compulsivos e repetitivos que sugerem liturgias. Assim como o crente faz libações, oferendas e cultos e, por meio deles,  estabelece contato com a transcendência, os devotos do capital aderem gestualmente a práticas rituais mesmo que se considerem ateus em tudo. O desejo de transcendência, base de toda religiosidade, é administrado por quem promete melhor. O bom publicitário é o melhor pastor. Transcendência barata ao alcance de todos, é a ladainha como subtexto do consumismo ritual na religião capitalista. Só que, no consumismo, o absoluto prometido em qualquer religião é elevado da esfera profana a uma ordem teológica ainda fundamentalista. Religião e telefonia No cenário em que o profano se tornou sagrado, quem não usa celular posiciona-se como ateu. Na ausência de um aparelho de último tipo, a ovelha desgarrada pode ser vista como o próprio “pobre de espírito”. No contexto de danação e desespero coletivos, em que a sensação de desamparo e abandono é a forma da psique geral, as corporações telefônicas funcionam como igrejas prometendo “acesso” absoluto, enquanto o acesso é, ele mesmo, elevado a absoluto e, portanto, deificado. As empresas de telefonia lutam por clientes como as igreja

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