Cavar sob os escombros da história
(Foto: Marcus Steinmeyer)
Desde pelo menos o fim do sistema soviético, simbolizado pela queda do Muro de Berlim em 1989, multiplicaram-se, à esquerda e à direita, os discursos a respeito do esgotamento das energias utópicas e as declarações triunfantes acerca do capitalismo ocidental como horizonte insuperável das sociedades humanas, coroados finalmente pelo complemento ideológico da decretação do fim da história. Antes fosse, diria muito provavelmente Paulo Arantes, se levarmos em conta o ambicioso diagnóstico de época traçado em seu livro O novo tempo do mundo: e outros estudos sobre a era da emergência (2014), para o qual o desaparecimento das expectativas revolucionárias é apenas parte do problema da nossa época.
Embora se prometesse um mundo sem maiores sobressaltos, cujos conflitos seriam dali em diante administrados pela última potência dominante, o que de fato presenciamos nas décadas seguintes foi a devastação social promovida pelas políticas neoliberais de austeridade fiscal, desregulamentação dos mercados e o ataque dos interesses privados aos bens e serviços públicos. Longe do paraíso prometido pelos vencedores, o que temos presenciado é o surgimento, agora no centro do capitalismo mundial, de uma desigualdade econômica crescente com o esvaziamento da proteção social, crises migratórias e humanitárias das populações periféricas excluídas dos fluxos de riqueza e, por fim, a crise ambiental e climática decorrente da disputa por recursos naturais transformados em mercadoria.
Em 2008, uma crise financeira de proporções inéd
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »