Privado: Cacos de Prosa

Privado: Cacos de Prosa
Parece chegar numa boa hora o relançamento de Eles eram muitos cavalos, primeiro romance de Luiz Ruffato, lançado originalmente em 2001. O livro é uma espécie de marco dentro de sua trajetória, iniciada, anos antes, com os contos de Histórias de remorsos e rancores, de 1998, e (os sobreviventes), de 2000. Ele contém, de certa forma, a síntese do que veio antes – das suas narrativas marcadamente regionais (mas não menos urbanas) – e do que viria depois, com a série Inferno provisório, na qual o escritor refaz, a partir de vidas particulares, o caminho capenga da industrialização brasileira (com foco em Minas Gerais e em São Paulo), um projeto ambicioso e raro nos dias de hoje, que é o da montagem do grande mosaico social. Essa preocupação com a vida brasileira está, assim, desde o princípio da trajetória de Ruffato – e seu recente importante desdobramento foi o discurso realizado pelo escritor na abertura oficial da Feira Internacional do Livro em Frankfurt, que gerou alguma polêmica, broncas raivosas, mal-estar entre escritores acostumados com a ambiguidade da cordialidade local e políticos nacionais presentes ao evento. Não era para menos: Ruffato, com terno-gravata, tudo como manda o figurino numa ocasião como essa, descortinava, para um auditório lotado, os problemas reais e concretos do Brasil, problemas estes diluídos, um andar abaixo, na fachada tropicalista do belo e muito criativo pavilhão de exposição brasileiro. Não é preciso fazer nenhum exercício árduo para relacionar o discurso de Ruffato com sua obra. Talvez a mudança

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