Brecht para nós
O dramaturgo alemão Bertold Brecht (Foto Fred Stein/Divulgação)
Conversas de refugiados é desses livros extraordinários que se leem quase de um fôlego só. Da primeira à última linha, ele poderá ser de grande valia para quem imaginar-lhe a palavra: devidamente situada, ela saltará das páginas para uma fala em alto e bom som, um desassossego e tanto, no campo da vida social como na arena da “vida” política. Acontece que essa meditação sobre o exílio forçado apresenta um texto que se presta ao ritmo alongado da leitura propriamente dita, mais do que a pulsações suscitadas por montagens no palco. O livro é capaz de tomar de assalto um ponto onde o leitor primeiro se vê como no sonho de um diálogo para logo em seguida se achar leitor segundo, diverso e, principalmente, desperto no ponto de crise em que a leitura interroga apegos usuais à própria ordem da leitura.
Ao leitor, portanto, um momento exemplar de prosa crítica. Brecht mostra uma estrutura em movimento tal que, para usufruto da consciência “espontânea”, instala a linguagem em patamares bastante elevados: se assim ele renova a arte do diálogo, guarda afinidades com o procedimento platônico ou socrático e, ao mesmo tempo, leva em linha de conta o arco moderno de conquistas técnicas da expressão, tais como as que foram abertas com Diderot, por exemplo, em Jacques, o fatalista.
De um lado, o físico Ziffel, alto e corpulento, tendo as mãos alvas e a língua solta, vai encarnar a inteligência exilada; de outro, Kalle, baixo e atarracado, as mãos de operário, acabará pautando a conversa com o realismo de quem conheceu o chão de f
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