Boa noite moça, boa noite moço: Exu, o bamba do samba
Passistas se exibem para a plateia no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro em 1966 (Foto: Arquivo Nacional/ Fundo Correio da Manhã)
Para Muniz Sodré, Leda Maria Martins e Julio Cesar Tavares
Em uma das narrativas que contam as proezas dos orixás, narra-se como Exu atravessa o tempo e faz as coisas acontecerem. Em suas peripécias, ele incendeia o ontem na faísca riscada agora. Exu está em tudo e em tudo está, é a pedra primordial que se despedaçou para dar corpo, movimento e graça a tudo que existe, existiu ou ainda existirá. Sendo ele a primeira pedra lançada, sua inscrição marca o caráter inconcluso da existência, dúvida e invenção diante de qualquer circunstância.
Exu atravessou o Atlântico e sua presença nas margens de cá do oceano nos ensina sobre as coisas do mundo. Recorro a ele, como disponibilidade filosófica, e às suas várias chaves conceituais para ler a diáspora africana como um acontecimento encruzilhado. De um lado, esse acontecimento tem como uma de suas marcas ser consequência da tragédia da escravidão moderna, do outro, registra o caráter inventivo das populações negras em dispersão e a força de seus saberes na disputa pela vida. Diáspora africana emerge como categoria analítica a partir das experiências em dispersão das populações negras ao longo de séculos até suas culturas em perspectiva globalizada.
Tenho apostado que a presença de Exu, como uma sabedoria praticada nos cotidianos, é uma das principais marcas da não redenção do projeto colonial. Dessa forma, onde Exu come, “vadeia” e brinca é sinal de que ali esse projeto não venceu. Entretanto, a peleja está posta. Mesmo não se sagrando vencedor, a guerra colonial
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