Ben

Ben

 

Você é meu maior bem.

Eu sei que você não é mais pequeno , o mundo te vê grande e dono de si você foi crescendo , eu ainda me lembro.

Os seus pés cabiam na palma da minha mão, a fralda no chão e o meu peito rente ao seu peito, eu sentia o teu coração.

Filho quando foi que você cresceu?

Onde foi que perdeu o medo de altura ?

E na escola haja morfina pra tanta ritalina injetada em criança que governo não atura.

Você não é meu filho, você é filho da rua.

Filho é pro mundo, não! O meu é meu.

Menos um bandido no mundo, mas coitada da mãe que perdeu.

Só eu sei a dor de levantar a mão pra bater num filho, mão que te ofereceu o mundo, mas você foi para as drogas encontrar abrigo.

Eu devia ter te amado mais?

Mama ama.

Eu dando teta pra cria que não era minha e peito chega racha.

E a minha cria passando fome e sentindo minha falta dentro da minha própria casa.

Já o menino da Dona Helena cresceu moço , de bem, com futuro, estudado e eu só rezando pro meu menino não virar bandido ou nascer veado. Eu não suportaria o medo.

Eu não suportaria o medo batendo na porta da minha casa todo o dia e nem se eu ungisse a minha casa com sangue de cordeiro o tal mito perseguiria outra família.

E a professora já dizia “O teu filho dona maria vai dar pra ser bandido”, eu nem deixava ela terminar e já estava dando pulo aos gritos.

O meu filho vai ser o quiser, por você eu viro leoa, eu como a caça, venha quem quiser. Eu viro a cidade atrás de você, eu esqueço que eu tenho medo da farda eu olho no olho do estado e pergunto “e meu filho seu polícia, cadê?”.

Ele recebe a fama e eu fazendo carreira solo. É mãe é pai, eu sou mãe, eu sou pai e lembrar o seu pai só me dá ódio.

Será que tem perdão pra mim?

Se a sina do pai que foi comprar cigarro nunca mais voltou e nunca tem fim. Herança falida, família falida e eu barganhando com a fome todo o dia.
E você ainda quer saber onde está seu pai?

Eu fui teu pai, tua mãe, teu tudo e você querendo mais.

O estado nunca me deu mais, os brancos querendo mais, eu ouço o bate panela.

A culpa é dela ou a culpa é dos pais?

Eu sou culpada e condenada desde que o tom da minha pele fala mais alto do que o meu próprio grito.

Esta poesia é uma homenagem e uma denúncia a todos os filhos e filhas mortos pela mão do estado ou a mando do mito.

Desculpa não terminar com final feliz é porque nem todos nós #estamos vivos.

 

Kimani é o vulgo escolhido pela poeta e cantora Cinthya, para competir nos campeonatos de slam – batalhas de poesia falada. Foi vencedora do SlamBR 2019.


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