Batalha contra o desencanto: a encruza como chegada
Feira de São Joaquim, local tradicional onde se vende desde utensílios domésticos a material sagrado, Salvador (Foto: Christian Cravo)
Exu Tranca Rua é homem;
Promete pra não faltar;
Quatorze carros de lenha pra cozinhar sua gambá.
A lenha já se queimou e a gambá está pra cozinhar.
O ponto que abre essa gira, como todo ponto cantado, é uma amarração de palavras que serve de montaria para que muitos saberes baixem. Esse corpo – palavra é corpo ofertado ao tempo – fala-nos da invocação de presenças que correm mundo e se encarnam nas esquinas mais vagabundas e nos tipos mais despretensiosos. Essas inscrições também nos apontam os limites das mentalidades obcecadas em serem totais. Assim, o princípio dinâmico da vida nos convoca à tarefa da transgressão. A cada esquina em que cisca o vivo e se alimenta o rito, está riscado um inventário de múltiplos saberes e se faz um campo de possibilidades.
Seu Tranca Rua, trabalhador brasileiro em termos macumbísticos, vadeia nas dobras do tempo e nos arremates da vida soprando aforismos como esse para que nos remontemos e inventemos soluções. Mas, afinal, o que pode a macumba? Quais são suas implicações políticas e como seus praticantes, munidos de um amplo repertório de tecnologias ancestrais, batalham em um mundo assombrado pelo desencanto?
Por aqui, nem toda vela que se acende é reza. Dessa forma, há de considerarmos que nenhuma esquina come e bebe sem que seja para se erguerem batalhas que nos convoquem a inventar vida, circular e expandir axé. É no diálogo com uma corte de seres comuns, senhores e senhoras que se encantaram nos caminhos por onde a vida passa, que lanço mais uma pedr
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